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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

cabotagem

     
    Estou tão habituado ao céu estrelado acima de mim e, eventualmente, à lei moral em mim, que me perco constantemente na perceção da existência como navegante no mundo onde há um mar de gente. Amo a navegação à vista e raramente utilizo o periscópio da alma: aprecio os navegadores que olham mais para a terra do que para o mar, como o veneziano Sebastião Caboto do século XVI que entrou no rio Prata em busca da mítica Serra da Prata na América do Sul. Foi-lhe reconhecido de tal forma o feito, que se batizou com o seu nome uma maneira de navegar, a cabotagem. Velejar no mar sem entrar nos rios é por ventura andar mais perdido e errante. O grande rio emudece no mar onde outras vozes se levantam, a sua morte engrandece o horizonte.
     É na terra que os rios são rios, águas passadas, presentes e futuras. Só nela temos a oportunidade de destruir os ídolos porque têm pés de barro. Às vezes sinto-me um cabotino quase silencioso na consciência de que mais do que isto não posso ser, dada a minha ignorância e cegueira, por excesso de luz ou por falta dela. Sou um saltimbanco existencial ao mesmo tempo que Cronos me devora as entranhas na espuma dos sentimentos.
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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Publicidade e Propaganda - a Grande Manipulação

    O discurso publicitário e o discurso de propaganda política são formas argumentativas do quotidiano a que quase todas as pessoas estão sujeitas, principalmente através dos meios de comunicação social, jornais, rádio, televisão e Internet, nomeadamente redes sociais e a blogosfera. Ambos os tipos de discurso têm por finalidade convencer ou persuadir o auditório. Tanto o discurso publicitário como o de propaganda política têm intensidades diferentes ao longo do tempo. Aquele, apesar de diariamente estar presente em muitos suportes, está fortemente sujeito a fatores como a época do ano, a eventos sociais e religiosos e a necessidades particulares de grupos específicos de pessoas, sejam temporárias ou permanentes. Já o discurso de propaganda política, apesar de parecer que as campanhas políticas são permanentes, pelo menos nas comunidades de cultura política democrática, pluripartidária ou não, é mais intenso quando há eleições ou quando surgem casos mediáticos despoletados pelos mass media ou outros agentes, como a guerra na Ucrânia, por exemplo, e que entram no domínio público, de tal modo que são integrados na opinião pública. Estes dois tipos de discurso evoluíram, principalmente a partir do último quartel do século XX no sentido de uma crescente convergência. Muitas das técnicas de propaganda política são hoje semelhantes às da publicidade, vende-se uma ideia, um projeto político-social e mesmo a justificação de uma guerra, como se vende um produto ou um serviço. Ambos os discursos pretendem ser sedutores e convencer ou persuadir pela imagem visual ou acústica, de modo a penetrar consciente ou inconscientemente nos membros dos auditórios respetivos. Na publicidade o auditório é específico, mas tendencialmente universal, isto acontece cada vez mais  também na propaganda política.      
    Ambos os discursos podem ser manipuladores na medida em que fazem promessas veladas e jogam com os sentimentos e emoções do público no sentido de controlar comportamentos, seja a aquisição de bens ou serviços, ou a escolha de um projeto social ou de uma ideologia. O discurso publicitário é sempre composto por mensagens curtas associadas a imagem ou som, com pouca informação objetiva, de modo a captar a atenção facilmente. Já o discurso político pode ter mensagens mais extensas, dado que um candidato a uma eleição ou  um representante de uma ideologia, por vezes, discursam para auditórios particulares ou para auditórios mais alargados através dos mass media como a TV, durante um tempo muito mais extenso do que qualquer spot publicitário.
O que se passa hoje a propósito das guerras, nomeadamente a guerra na Ucrânia, que inunda os ecrãs televisivos a toda a hora e em todos os canais, é também, na maior parte dos casos, pelo que tenho visto e ouvido, imensa manipulação a uma só voz, aparentemente diversa, mas essencialmente repetitiva, que deixa de fora a possibilidade de os cidadãos terem acesso a diferentes perspetivas de análise dos acontecimentos, sendo levados a "concordar" com a perspetiva dominante dos donos das televisões. Não podemos nem devemos, por isso, acreditar em tudo o que nos querem vender. Há, de facto muitas mais guerras e conflitos que decorreram, não há muito tempo e a decorrer, na Síria, na Líbia, no Iémen, na Palestina, etc.. Contudo as nossas televisões praticamente não os mostram, para nos dizerem que só uma importa, aquela que nos mostram, ocultando tudo o resto.
Quase toda gente se diz contra a guerra e muito bem, mas não basta isso, é preciso ir mais além, estudando história, analisando racionalmente os complexos processos que nos conduziram a tudo isto, a partir do maior número de pontos de vista, sem reduzir as explicações a epifenómenos simplistas e maniqueístas. Não é fácil, mas não é impossível.
Publicada por Pedro Reis à(s) 18:19 Sem comentários:
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quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Diversidade individual e cultural


A diversidade individual deriva fundamentalmente da constituição genética, do ambiente em que se vive e da cultura em que se está imerso. A diversidade cultural resulta principalmente de fatores de natureza geográfica, ambiental, histórica e também do modo como as culturas se relacionam umas com as outras. As diversidades individuais e culturais dizem respeito às diferenças entre indivíduos e culturas. Essas diferenças são positivas na medida em que nos conduzem ao questionamento e à dúvida sobre os nossos pontos de referência. Esta dúvida resulta do contacto com indivíduos diferentes e muitas vezes de culturas diversas. Muitos dos nossos problemas, como os preconceitos, por exemplo, só poderão ser resolvidos se tivermos vivências e interações com modos de vida, pensamento e ação diferentes dos nossos. A diferença e a nossa disposição para a observar e escutar, leva-nos à aprendizagem e ao enriquecimento, o que é essencial para nos transformarmos e mudar positivamente os contextos em que vivemos.

Nota:  Há um Dia Mundial da Diversidade Cultural e para o Diálogo e o Desenvolvimento - 21 de maio de 2022
Publicada por Pedro Reis à(s) 09:22 2 comentários:
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sábado, 3 de dezembro de 2016

Padrão Cultural Português




O padrão cultural português define-se, em primeiro lugar, como pensamento português, aquela forma de imaginar, dizer ou escrever, comum a todos os portugueses: o exercício da língua portuguesa. Dela faz parte a literatura identitária no seu expoente mais significativo, como Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco, José Saramago e António Lobo Antunes, ilustres e esclarecidos representantes da alma portuguesa, António Aleixo, poeta popular, bem como todo o espólio de ditados populares que conhecemos e a linguagem oral espontânea na vivência do dia-a-dia, influenciada pelos símbolos da cultura portuguesa: a bandeira e o hino nacionais, o galo de Barcelos, a torre de Belém, os símbolos relativos ao desporto, principalmente o futebol, a religião dominante, católica, a música, nomeadamente o fado cantando a saudade, a gastronomia mediterrânica e os hábitos alimentares presentes no quotidiano e nas feiras e romarias.


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Publicada por Pedro Reis à(s) 16:23 Sem comentários:
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sábado, 12 de novembro de 2016

psicologia - a proximidade do objeto

     As áreas do conhecimento relacionadas com o comportamento individual e social dizem respeito fundamentalmente à Psicologia, ciência que estuda os comportamentos e os processos mentais. Todas as pessoas observam espontaneamente comportamentos de si próprios e dos outros e ao fazerem-no tantas vezes, acabam por ficar com a sensação de que conhecem a explicação das causas dos seus comportamentos e dos outros. 
     Temos tendência para pensar que conhecemos bem quem está perto de nós e melhor ainda nós próprios. A proximidade do objeto de estudo da psicologia permite-nos ter acesso a ele com menor distância temporal e espacial mas não nos garante necessariamente um conhecimento aprofundado como o conhecimento científico. 
     Dado que o senso comum é o conjunto de conhecimentos que todos têm em geral, é natural que tais conhecimentos afetem a psicologia e a sua credibilidade. De algum modo qualquer pessoa se considera um pouco psicólogo na medida em que se julga capaz de explicar os seus próprios comportamentos e os dos outros. Daí que o trabalho da psicologia seja, em parte, afastar preconceitos e estereótipos existentes na cultura popular a que chamamos senso comum. Por conseguinte o conhecimento científico sobre os comportamentos e os processos mentais só é acessível a quem faz psicologia científica ou a quem a compreende, não tem sido acessível a todos e dificilmente o será.
Publicada por Pedro Reis à(s) 09:23 Sem comentários:
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quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Carlos Drummond de Andrade - viver não dói

Há um poeta brasileiro de que gosto muito, Drummond de Andrade (1902-1987), tem um poema que talvez não seja considerado dos melhores do autor, mas é o de que eu gosto mais, não resisto a colocá-lo aqui.



Viver não dói

Definitivo, como tudo o que é simples.
Nossa dor não advém das coisas vividas,
mas das coisas que foram sonhadas
e não se cumpriram.
Por que sofremos tanto por amor?
O certo seria a gente não sofrer,
apenas agradecer por termos conhecido
uma pessoa tão bacana, que gerou
em nós um sentimento intenso
e que nos fez companhia por um tempo razoável,
um tempo feliz. 
Sofremos por quê?
Porque automaticamente esquecemos
o que foi desfrutado e passamos a sofrer
pelas nossas projeções irrealizadas,
por todas as cidades que gostaríamos
de ter conhecido ao lado do nosso amor
e não conhecemos,
por todos os filhos que
gostaríamos de ter tido junto e não tivemos,
por todos os shows e livros e silêncios
que gostaríamos de ter compartilhado,
e não compartilhamos.
Por todos os beijos cancelados,
pela eternidade. 
Sofremos não porque
nosso trabalho é desgastante e paga pouco,
mas por todas as horas livres
que deixamos de ter para ir ao cinema,
para conversar com um amigo,
para nadar, para namorar.
Sofremos não porque nossa mãe
é impaciente connosco,
mas por todos os momentos em que
poderíamos estar confidenciando a ela
nossas mais profundas angústias
se ela estivesse interessada
em nos compreender.
Sofremos não porque nosso time perdeu,
mas pela euforia sufocada.
Sofremos não porque envelhecemos,
mas porque o futuro está sendo
confiscado de nós,
impedindo assim que mil aventuras
nos aconteçam,
todas aquelas com as quais sonhamos e
nunca chegamos a experimentar.
Como aliviar a dor do que não foi vivido?
A resposta é simples como um verso:
Se iludindo menos e vivendo mais!!!
A cada dia que vivo,
mais me convenço de que o
desperdício da vida
está no amor que não damos,
nas forças que não usamos,
na prudência egoísta que nada arrisca,
e que, esquivando-se do sofrimento,
perdemos também a felicidade.
A dor é inevitável.
O sofrimento é opcional
Publicada por Pedro Reis à(s) 17:40 Sem comentários:
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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

pássaros

Entro em casa:  ninguém.
Atravesso a sala em câmara lenta,
abro a porta de correr do quintal,
olho as plantas verdes, conheço-as
mesmo sem  saber o nome de todas.
Catos, dálias, amores de mãe,
brincos de princesa, aloé vera,
roseira, alecrim, salsa, hortelã…
Absoluto silêncio, fraca luz
e a saudade voltou.
Ontem vi claramente vista uma osga,
tão linda, percorrendo com ternura
o pé da laranjeira que, por ora,
só tem laranjas verdes e pequenas.
Regresso à sala grande, procuro
música ao acaso.
Tiago Bettencourt com a canção
de engate do Variações.
Escuto até ao fim, levanto-me,
espreguiço pernas e braços
estendo a alma como um lençol
e vejo uma borboleta,
como Psychê, nora de Afrodite contra sua vontade.
Atravessei a porta de correr
e dei de ouvidos com os pássaros
que, por vezes, me  lembram a caça aos pardais
na China de Mao, será mito?
Gosto de os escutar, 
é tão bom sentir o carrocel da vida 
em bebedeiras musicais. 


Publicada por Pedro Reis à(s) 18:22 Sem comentários:
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quinta-feira, 13 de outubro de 2016

lampedusa

nasce o infinito na curva da estrada
dentro do estômago, bem no fundo
no plano mar de mim mesmo
nasci ontem e hoje ainda aqui estou
a lamber os selos na loja dos correios
as cartas hão-de dar a volta ao mundo
galgar tempestades e voar sobre as montanhas
hão-de chegar aos pais natais verdes
aos diretores das organizações não governamentais
voarão nos porões dos aeroplanos no fundo dos caixotes
levam consigo segredos escondidos ou não fossem secretos
epístolas do fim do mundo caídas de para-quedas
nas florestas virgens da civilização já morta
morreram em lampedusa os heróis e os mártires
separaram-se os corpos de suas almas
e as balas perdidas encontraram a terra fértil
como as margens do eterno nilo repletas de crocodilos
choram desalmadamente, e como as carpideiras
gritam pelos vivos, os mortos, esses já foram
aproveitemos o sal das lágrimas e temperemos a carne da vida
a noite já vai longa e não tarda a madrugada


Publicada por Pedro Reis à(s) 21:45 Sem comentários:
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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

calor de outono


com o calor de outono
a inchar  as veias
o sangue late-me
como um cão aflito
de um mendigo
numa rua fétida
ouço-o tão vivamente
como o mar num búzio
vagabundo, remendado
aceitando moedas pretas
os rios do sangue
trazem luz e consciência
o nosso destino 
fogo que queima como ferrete
carne viva que dói
corpo contorcido entregue
à fogueira das vaidades
e tudo no fim, como a alegria
os espinhos das roseiras
suas folhas e as próprias rosas
e os verdes ramos
será cinza de uma vida 
de uma combustão atenta
de uma tortura, às vezes feliz
enlaçada nas raízes de vinho
que não há-de ser bebido
conduzido à substância ácida
corroendo paixões, escavando
na dureza das rochas, as cavernas
as tocas, as grutas do amor
a aí ficará a nossa história
gravada nas camadas sucessivas
dos restos das nossas existências
como tentativas de ser
Publicada por Pedro Reis à(s) 17:08 Sem comentários:
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terça-feira, 13 de setembro de 2016

chuva em setembro

hoje caiu chuva torrencial
enormes lágrimas vindas do fundo do tempo
o vento driblou as folhas das árvores
sacudiu-as e amassou-as em vórtices múltiplos
os pássaros surpreendidos voltejaram 
esbaforidos à procura de abrigo
as gotas como espadas crisparam-se
umas nas outras e ao tocar o chão
as últimas abelhas de olhos inchados
zumbiram no doce das frutas tombadas

no recesso lar por detrás das vidraças
li a guerra na Síria  e o tremor
do ensaio nuclear da Coreia 
os insultos do candidato americano
as armas amarguradas na Ucrânia e o bebé morto na praia
a polémica do défice como sexo dos anjos
as crianças operárias na cidade grande da China

tudo  me inquietou como o ferrete da vida
que se cravou tranquilamente na pele
enquanto sonhei na almofada das utopias

Publicada por Pedro Reis à(s) 18:58 Sem comentários:
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domingo, 4 de setembro de 2016

taça

a taça  por onde bebemos
as nossas horas já é de ouro
mais nobre e pesada
e a seda que te pedi e me deste
tornou-se mais lenta e forte
mostra outros sonhos
como se o tempo não nos devorasse devagarinho
Publicada por Pedro Reis à(s) 21:53 Sem comentários:
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sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Sócrates e Sísifo


não creio nos deuses nem nos mitos
as minhas crenças são apenas convicções
circunscrevem-se à ínfima parte do que digo e sinto
são provisórias, pois agora já sou outro
Como Sísifo subindo e  empurrando a sua dor  
descendo alegremnete
não tenho grandes planos 
sinto-me como uma centopeia de pés descalços 
nos caminhos árduos da montanha sentindo dor 
a maior inscrição possível, sem escolhas 
como a tremelga de Sócrates a espicaçar o próximo sem dó
por isso os artesãos da palavra se sentam
pegam na pena e tecem à medida que o corpo recorda
as dores sentidas, as passadas só do presente
dou por mim sentado entre quatro paredes
boiando como o nenúfar à espera da rã
que aguarda, no ar puro, outra rã e  o inseto distraído para o jantar

Publicada por Pedro Reis à(s) 09:22 Sem comentários:
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sexta-feira, 29 de julho de 2016

E se, em março?

E se em março, as emoções
eclodissem em bons sentimentos
dentro dos corações,
com magia, sem lamentos?
Seriam de mil cores, 
como todas as flores,
de mãos dadas, enlaçadas.
Seriam almas encontradas
na terra da fraternidade, 
vivendo a essência da liberdade.


Publicada por Pedro Reis à(s) 13:47 Sem comentários:
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à noite

à noite quando medito as rosas
abre-se-me o sal da tua língua
encontro em cada pétala o gosto
do cálido sofrimento dos dias

à noite quando as folhas 
da roseira namoram
vejo a clara luz das manhãs 
e o vento amassando as águas

à noite quando o suor sofrido
teima em não fugir por omissão
bebo dos teus olhos água viva
e mato a sede das mãos

à noite, quando percorremos
a série de outras vidas
sinto o coração nas nuvens frescas
batendo asas para o infinito
Publicada por Pedro Reis à(s) 13:31 Sem comentários:
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quarta-feira, 6 de julho de 2016

aragem

Este verão é longo e quente
e estranho,
no quintal só passa o vento
e um pássaro de vez em quando.
O vento sopra-nos de lado quando passa,
o pássaro bate as asas de mansinho 
para não darmos por ele.

Nenhuma palavra é suficiente
para matar a saudade fina
que me nasce à flor da pele.
Publicada por Pedro Reis à(s) 15:15 Sem comentários:
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sexta-feira, 1 de julho de 2016

figo



Figo doce como aroma
De rosas vermelhas 
Cor de coração de melancia
Esperança verde cor de maçã
Promessa de amor ao rubro vislumbre
Das nectarinas lúcidas como as mãos
Às quais cabe o mimo ontológico
De dar vida à vida, como me disseste 
O que se leva dela é a vida que se leva 
Nos enleios visíveis e invisíveis
Florestas frescas como as do avatar
Figo doce do corpo que se abre
Flor madura, pesada e leve
Como a vida infinita e breve.

Publicada por Pedro Reis à(s) 14:08 Sem comentários:
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terça-feira, 14 de junho de 2016

Eros

Insanável escravo
Como se representasse
O  imperativo categórico
Em busca do princípio
Encontro-me no mundo
Dos deuses na sua loucura
Absolutamente lúcida
Riem às gargalhadas
Deste corpo pobre
Armadilhado por potentes
Fios invisíveis, resistindo
Com dor psicossomática
Às teias do todo poderoso
Génio pai dos deuses maiores
Quero e não quero
Como se o amor fosse
Mãos dadas sentados
No ramo do embondeiro
Balançando pernas e pés
Qual pêndulo de  Galileu
Manifesto da isocronia
No ritmo natural
De corações batendo
Convergidos no mesmo sangue


Publicada por Pedro Reis à(s) 15:23 Sem comentários:
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quarta-feira, 8 de junho de 2016

peixe

Lindo dia, brilha o sol, os telhados das casas refletem toda a luz e a energia implacável que nos alimenta prolonga mais e mais a nossa vida. Acordei às quatro da manhã. Saí do casulo e enquanto olhava para as estrelas já mal visíveis, ocorreu-me perguntar, que raio faço eu aqui, não deveria estar a dormir ou será que estou a sonhar e sou mesmo sonâmbulo? Mas o que sou ou quem sou para me arrogar o direito de duvidar de tudo e de mim mesmo? A vida é isto, ato contínuo de perguntas e respostas que germinam perguntas numa carreira sem fim. Os meus ossos já evidenciam algumas artroses, a minha coluna está torta, os meus olhos veem cada vez mais nevoeiro, a minha memória, mais lenta, já não me permite recordar os nomes de certas pessoas, até mesmo de alguns escritores de que gosto. Se assim é, o que sou eu senão um corpo em deterioração à espera do fim? 
Há quem acredite na mente, último resquício da alma, como se todos os pensamentos e sentimentos fossem espirituais ou imateriais. Quando jovenzinho dava por mim a pensar sobre o pensamento e para onde iria ele depois da morte, como se o pensamento não morresse e consistisse numa coisa etérea e infinita. Agora creio apenas num certo esforço que o corpo oferece a si para tentar compreender-se, para aumentar um pouco as probabilidades de sobrevivência ou reduzir as potencialidades do sofrimento. Como um corpo não pode viver ou sobreviver sozinho, terá necessariamente de se relacionar com outros corpos de variadíssimas maneiras, respeitando de certa forma a proxémia biológica, social e amorosa. Sou um peixe de aquário embatendo contra a parede de vidro, os meus lábios encontram a realidade, resistência pela qual reconheço a minha finitude, as incomensuráveis limitações do meu universo. Dou conta de outros que me parecem peixes e num ato instintivo roço nas suas as minhas barbatanas, alguns sacodem-nas como se tivesse sarna, outros agradecem o gesto pelo hábito e até me convidam para beber um copo ou saborear uma taça de chocolate sabendo de antemão que o agente duplo que sou  se resigna perante as novidades talvez desejadas. Vou perdendo as escamas como as borboletas em fuga por entre os cardos. Sou um animal ambíguo, encontro no ecrã do mundo as cores do arco da velha do meu cérebro, o pote de ouro inalcançável, e ainda bem, sabendo nós o exemplo do rei Midas. Sou todo palavras e nada mais que isso, palavras são corpos a vibrar, olhares, trejeitos, danças, cerejas como as conversas.
Publicada por Pedro Reis à(s) 09:55 Sem comentários:
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segunda-feira, 23 de maio de 2016

fragmentos

Uma planta germinou e vive 
na fissura do muro.
Outra ergue-se do vaso 
e cresce encostada à parede.
Para a vida, as barreiras 
nem sempre são becos sem saída.
As flores, de formas à vista
e raízes invisíveis,
podem ser belas, são epifanias,
quando enquadradas
mostram-se em toda a parte. 
São tão belas como os amores perfeitos, 
só que às vezes não damos por isso.
 


Dois fragmentos do quintal -  23 de maio de 2016


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domingo, 8 de maio de 2016

INFINITOS


Delta do rio Okavango no deserto de Kalahari 


Pouco ou nada  sei do mundo, 
e mesmo assim, sem razão aparente,
busco um significado para as sensações 
que me atormentam. 
Procuro incessantemente não ter ilusões
porque não acredito na sorte das lotarias. 
Sou, tanto no sonho sonhado 
como no acordado, uma ninfa e, 
depois de lagarta pesada, 
esvoaçante borboleta soltando escamas, 
um outro a cada instante que passa,
ora desejando igualdade
ora querendo diferença,
como o Tejo morrendo no mar
ou  rio Okavango no deserto a chorar.
Vou gostando de olhar as estrelas, 
e sinto-me bem a viajar assim, 
dois mil anos luz até Deneb, 
treze mil milhões desde o início, 
cumprimentando as luas de Júpiter,
navegando no cinturão de asteroides,
caminhando e pontilhando
como um pintor impressionista,
só para apaziguar a melancolia
induzida pela ilusão 
dos ecrãs, 
quadrados que tanto me afligem.
Procuro o sentido no frágil conforto
como concha sem pérola,
e ao acordar descubro 
que estamos vivos, 
ainda somos infinitos
no amor, na luz e na dor.


Publicada por Pedro Reis à(s) 17:26 Sem comentários:
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terça-feira, 3 de maio de 2016

a deusa deve ser bela



Afrodite de Cnido


da aziaga natureza
levo as selvagens chicotadas 
os empurrões do vento
o frio glaciar dos invernos
o crocitar dos corvos loucos
a dor finíssima do fio da navalha
encaro o poder de Zeus
na inconsistência de tudo
a que não me posso furtar
de olhos secos e inamovíveis 
vejo turvo e sinto socos de angústia
nas internas paredes do estômago
sou náusea sem fim
embalagem de ladras invisíveis
que me levam os dentes, os nervos 
pedaços de pele e cabelos pretos
liquefaço-me a cada instante
vou escorrendo pelos muros do universo
como a água de Heraclito
recorro, cadáver cinético
a Afrodite para me compor
(a deusa deve ser bela).
Publicada por Pedro Reis à(s) 22:54 Sem comentários:
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terça-feira, 12 de abril de 2016

palavrear



As palavras nascem das cordas vocais,
da cavidade bocal, aos bocados.
As palavras vão-se seguindo umas às outras,
dão as mãos, enleiam-se como as caudas dos gatos.
A palavra palavra e todas as outras nasceram
e, mesmo ontem, se eclodiram de manhã, umas
ao raiar do sol, outras já eram ao crepúsculo.
Avós, mães, filhas e netas de si próprias,
vão-se descobrindo ao mesmo tempo
que se vão encobrindo para não definharem.
As palavras são felizes quando se realizam.
Azedas, zangam-se e apartam-se  até ao próximo encontro.
Avizinham-se para sobreviverem e pelejam ideias
muito difíceis de entender. 
Entranham-se na estranheza de si próprias.
Projetam fachos  numinosos, esclarecem-se
umas às outras, como a língua do gato sobre o pelo macio
do gato mais próximo.
Sem proibições dizem coisas
espantosas como, é proibido proibir,
interditam-se porque se entredizem, espalham-se
como cristais sob a ténue luz ao cair da noite.
Caem sem estrondo na terra quente e húmida,
aconchegam-se no longo inverno frio e cavernoso.
Abrigam-se do sol que queima e mostram as flores
e os frutos da primavera de maio.
Inusitadamente ressuscitam, criam hordas,
radicam-se, edificam casas onde vão morar,
de onde sairão quando um pastor as cativar.
Deambulam nos verdes campos
onde escutam a música da flauta mágica. 
Posto isto convertem-se em poesia,
mostram-nos as profundezas e as altas montanhas, 
entregam alegria aos corações 
cujas mãos desenharão crianças, 
rubras papoilas, mar salgado,  infinito amor.
Publicada por Pedro Reis à(s) 18:29 Sem comentários:
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quinta-feira, 31 de março de 2016

CAMINHAR


Ao caminharmos,
mesmo em silêncio,
podemos obter,
com algum tempo,
os sonhos lúcidos
e os propósitos
que requeremos
para a nossa vida.
No final de cada caminhada,
ao repousarmos na realidade,
como a borboleta na flor,
despertamos.
Se não nos movimentarmos
não sentiremos as grilhetas
que nos prendem,
não desentorpeceremos,
jamais nos libertaremos
dos sonos dogmáticos.





Publicada por Pedro Reis à(s) 12:36 Sem comentários:
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terça-feira, 22 de março de 2016

para sempre

imagem

A VIDA E A MORTE (1916) Gustav Klimt

um dia um de nós sentirá o vazio
de nunca mais falar com o outro,
seremos nada em simultâneo
talvez a  triste alegria seja sentida 
pelo fim do sofrimento de quem foi primeiro,
a certeza final da cristalina verdade
depois da realização de todas as ficções.
as nossas mortais células apodrecerão.
o tempo, tão breve quando conversamos, 
permanece misterioso. 
caminhamos lado a lado, falando, rindo,
jogando palavras um ao outro, 
como crianças passando a bola, 
existimos, ultrapassamos o nada que nos foge.  
seja o que for o futuro, agora apenas imaginado, 
tão bom é conhecer-te,  
quando caminho em qualquer lugar para parte nenhuma 
não consigo deixar de indagar se não estarás por ali, 
todos os sítios do mundo são bons para te encontrar, 
o teu corpo persegue-me ou sou eu que o persigo, 
não sei, não posso querer saber, 
não sei querer, tudo o que quero ou não quero acontece, 
e lá, linda como sempre, 
no cenário que descubro por acaso, 
sorris, com um sorriso de olhos doces, 
suave teu rosto quente e tuas mãos 
folheando cartas de amor espinhoso 
como as rosas da roseira do meu pedaço de planeta.  
no meio da literatura que me distrai,
pretexto do marulhar que me lança na vida, 
há horas em que não te perceciono 
e apenas te encontro na memória, 
mesmo assim  tudo faz sentido 
nesses flamejantes momentos
onde se encontra o sentido 
do que parece não ter sentido nenhum,
árvores despidas, urzes do campo, 
acácias floridas e calor das fragas, 
dando alento  aos nossos passos 
em direção às montanhas 
fustigadas pelo vento, para sempre.
Publicada por Pedro Reis à(s) 20:29 Sem comentários:
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domingo, 6 de março de 2016

A importância da metafísica para Descartes

A Árvore da Vida
                Gustav Klimt - 1909



Na obra
Princípios da Filosofia, Descartes utiliza a metáfora da árvore para elucidar a dimensão complexa da filosofia. Ele mostra-nos que não há filosofia sem metafísica. Esta é a raiz da Filosofia, por isso, é por ela que se deve começar a tarefa de encontrar os princípios fundamentais do conhecimento humano. Descartes está empenhado em construir o edifício do conhecimento em bases sólidas e é necessário compreender muito bem os alicerces ou as raízes desse conhecimento. A metafísica busca o conhecimento da essência das coisas, está para além da física, trata do domínio daquilo que não é dado aos sentidos, o seu conteúdo não é visível, tal como não são visíveis as raízes da árvore. Contudo, sem as raízes, fundamento da árvore, nada existiria de sólido. É necessário, para Descartes, encontrar o porquê dos princípios do conhecimento. Por isso ele procede a uma investigação de carácter metafísico através das regras do método (propostas na obra O Discurso do Método: evidência, análise, síntese e enumeração), inspirado na matemática, já que a sua origem é exclusivamente racional e a priori. Sem metafísica não pode haver utilidade na filosofia cujo pináculo é a moral, último grau da sabedoria que pressupõe o conhecimento de todas as outras ciências. Estas ideias apresentam um alcance notável e vão ao encontro do que Platão advogara há muito, o maior dos males é a ignorância, para praticar o bem, isto é, para exercer a moralidade, é necessário conhecimento e conhecimento do fundamento. É, em suma, impreterível ser radical, ir às raízes, tomá-las, apreendê-las, sem esse desiderato não há medicina, mecânica ou moral e portanto não há segurança nem confiança, condições imprescindíveis para o ser humano.
Publicada por Pedro Reis à(s) 10:32 Sem comentários:
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domingo, 28 de fevereiro de 2016

Ritual


depois de encetar o ritual diário
uma espécie de oração da manhã
olhando de relance as parangonas
para confirmar como algumas 
tocam a realidade que se esconde
atrás do nevoeiro infindo das coisas
na opacidade do papel
na escuridão do pensamento
parto para a fase seguinte
saborear o sal gorduroso das torradas
deglutir a cafeína e todos os aromas
só depois exponho a pele inteiramente nua
à chuva equatorial para me livrar 
sem pensar nisso, 
de umas quantas células
até que na próxima lua seja outro por fora
e quase outro por dentro
como máquina que se desconhece
cubro a pele de fibra
envolvo quase todo o meu ser com um véu
para que ninguém me descubra sem eu querer
depois torno-me figura pública e só dou
um pouquinho de mim ao mundo,  
uma quantas vibrações sonoras 
até ficar sem tempo e sem voz
retomo depois o ritual solitário
ingiro alimento de pobre saudável
descanso as articulações do pensamento
os ossos da alma e os músculos do cérebro
e sento-me na minha nuvem doce
desenhando as curvas da felicidade
na sombra dos amplexos que sonho
todos os dias até adormecer
todas as noites até amanhecer.
Publicada por Pedro Reis à(s) 18:46 Sem comentários:
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Tipos de conhecimento

O conhecimento por contacto consiste na nossa relação direta com a realidade e na representação mental que daí deriva. Posso afirmar que conheço Paris porque já vi, ouvi e toquei diretamente diversas partes dessa cidade e consequentemente tenho em mim um sistema razoavelmente organizado de imagens na minha memória de longo prazo sobre a complexa ideia de Paris. Em qualquer momento da vida em que me seja dada a possibilidade de evocar a cidade de Paris, o meu conhecimento por contacto permite-me dizer: conheço Paris. Mas, pelo facto de ter em mim uma série de imagens mentais de Paris posso asseverar que conheço efetivamente esta cidade?

O conhecimento do tipo saber-fazer ou saber como é uma competência ou um conjunto de habilidades pelas quais concretizamos um conjunto de movimentos observáveis, como por exemplo, saber andar de bicicleta, saber nadar ou saber tocar um instrumento musical. Este tipo de conhecimento só existe ma medida em que se mostra ou concretiza pela atividade física, é um conhecimento de natureza prática, revela-se através de movimentos ou habilidades de um qualquer sujeito e pode ser registado objetivamente. Mas será que nos conhecemos a nós próprios e aos instrumentos musicais só porque sabemos como usá-los? Este tipo de conhecimento adquire-se com exercício ou treino e mostra-se pelos movimentos corporais que conseguimos executar e certifica-se pelo feedback que conseguimos evidenciar quando nos perguntam se sabemos qualquer coisa: por exemplo, saber escutar.

O conhecimento do tipo saber-que ou proposicional é aquele que é expresso sob a forma de enunciados declarativos com valor de verdade. Este tipo de conhecimento é aquele que interessa fundamentalmente à filosofia e às ciências apesar de não ser exclusivo delas. O senso comum ou conhecimento vulgar apresenta-se também através de proposições, pode ser portanto, um conhecimento proposicional.
O conhecimento proposicional distingue-se claramente do conhecimento por contacto e do conhecimento como saber-fazer. Todos os tipos de conhecimento apresentados são necessários e até certo ponto interdependentes. Não poderei formular uma proposição de natureza empírica sobre um determinado fenómeno se não tiver partido de um conhecimento por contacto e este, por sua vez necessita do saber-fazer.


Será que só o conhecimento do tipo saber-que ou proposicional poderá contribuir para melhorar o mundo? A resposta a esta questão depende claramente do que entendermos por melhorar o mundo. Se adotarmos um ponto de vista platónico, isto significaria que um mundo melhor seria o mundo mais próximo do real/ideal, do verdadeiro mundo onde as formas perfeitas de justiça, beleza e bem dominam. Tal mundo só é detetável pelo pensamento e no pensamento. Todo o pensar filosófico se preocupa com a verdade de um modo ou de outro e se exprime através de juízos manifestados proposicionalmente, desta forma, sem conhecimento de tipo proposicional não seria possível melhorar o mundo, já que não teríamos um modelo ou um referente que nos permitisse efetuar alterações (melhorias). O próprio conhecimento do tipo saber-fazer está dependente do saber proposicional através do qual é possível reconhecer ou atribuir significado ou sentido àquilo que se faz.
Publicada por Pedro Reis à(s) 18:31 Sem comentários:
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