Páginas

terça-feira, 7 de março de 2017

O louco da colina

Sou a luz que entra em mim,
a calma do frio outono sem fim.
Sou o que vejo, o que sinto,
o doce veludo das minhas botas,
a transparência das lentes por onde olho,
o verde das folhas quietas de que respiro.
Sou as formas das tuas mãos,
as ondas do teu mar 
e os pensamentos dos teus peixes.
Sou o louco da colina a sentir o vento,
a ver o pôr-do-sol enquanto a terra gira.
Sou o trinado dos pássaros invisíveis,
a leveza do corredor incansável na longa praia,
a maresia dos crustáceos e a maré vazia.
Sou do tamanho dos teus olhos,
cujo brilho é a luz do mundo.
Não sei o que me é dado,
não sei o que sou, quem sou, 
nem para onde vou;
por isso a minha vida agrada-me
como o voo suave de um dente de leão
semeando brilho branco no ar,
caindo, 
         caindo, 
                  devagar, 
                            devagar.