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terça-feira, 13 de setembro de 2016

chuva em setembro

hoje caiu chuva torrencial
enormes lágrimas vindas do fundo do tempo
o vento driblou as folhas das árvores
sacudiu-as e amassou-as em vórtices múltiplos
os pássaros surpreendidos voltejaram 
esbaforidos à procura de abrigo
as gotas como espadas crisparam-se
umas nas outras e ao tocar o chão
as últimas abelhas de olhos inchados
zumbiram no doce das frutas tombadas

no recesso lar por detrás das vidraças
li a guerra na Síria  e o tremor
do ensaio nuclear da Coreia 
os insultos do candidato americano
as armas amarguradas na Ucrânia e o bebé morto na praia
a polémica do défice como sexo dos anjos
as crianças operárias na cidade grande da China

tudo  me inquietou como o ferrete da vida
que se cravou tranquilamente na pele
enquanto sonhei na almofada das utopias

domingo, 4 de setembro de 2016

taça

a taça  por onde bebemos
as nossas horas já é de ouro
mais nobre e pesada
e a seda que te pedi e me deste
tornou-se mais lenta e forte
mostra outros sonhos
como se o tempo não nos devorasse devagarinho