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sábado, 25 de abril de 2020

25 de abril





      Comemoramos a revolução de Abril graças ao inconformismo e à determinação de jovens militares e a todos quantos tiveram coragem de enfrentar a guerra, a censura, o autoritarismo, a prisão, a tortura e o exílio, todos os que deram a sua vida e o seu trabalho combatendo generosamente um estado tenebroso, aviltante e fascista para que desabrochassem cravos vermelhos de esperança. 
     Abril trouxe-nos a libertação das grilhetas da ditadura, devolveu-nos a alegria de viver, plasmou-se, durante todos estes anos, com maior ou menor intensidade, em conquistas notáveis que contribuíram para a felicidade de muitos milhões de portugueses e para um novo sentido da história, exemplo para o mundo: paz, pão, habitação, saúde, educação, cultura, liberdade. 
     Conquistámos, também, com Abril, novos deveres, novas responsabilidades e novas obrigações, fundados numa causa maior: a Democracia.
     A Democracia, livre pensamento, deliberação e execução das decisões tomadas pelos cidadãos num tempo útil em que os próprios são responsáveis por todo o processo, das ideias à materialização dos projetos. 
     A Democracia não é compatível com a alienação dos cidadãos em nenhum momento, realiza-se a todo o tempo e em todo o lado, principalmente na esfera pública,  é ela que decide o que é público e privado. 
     A Democracia é o exercício da ética universal, não deixa ninguém de fora, regime político do caminho para a felicidade dos povos, prática do respeito absoluto entre todos os seres humanos, independentemente da sua condição socioeconómica, religiosa, cultural, ideológica, sexual, geográfica, étnica ou filosófica: sustentáculo do Estado que deve ser sempre um Estado de Direito Democrático, um Estado Social.
   
Viva o 25 de abril

quinta-feira, 23 de abril de 2020

abril



No tempo de mil mágoas
abril traz-nos da vida o sentido,
como se fôssemos prímulas, tulipas, 
margaridas-do-monte.
Aprillis abre a porta da alma:
as mentiras do primeiro dia - plaisanteries -
tão necessárias como as verdades,
refrescam-nos o coração.
As vaidades, os sonhos esquecidos,
as insónias que apertam a existência,
a decrepitude do corpo, os achaques da imaginação;
dão lugar ao nascimento de pétalas frescas 
cuja queda mostra os frutos ainda tão pequeninos,
promessas grandes por cumprir.
Abril é isto, janelas limpas e transparentes, 
portas a abrir devagarinho como se fossem 
vozes a passar de boca em boca, baixinho, como os segredos,
como as águas da consciência, lúcidas e inebriantes.
Abril é um tempo que cabe numa palavra: desconfinar,
ainda que só em pensamento, sem desconfiar, 
porque a fruta oferecida pelo inverno deu-nos força suficiente 
para abraçarmos a primavera 
que veio ao nosso encontro  e nos quer vivos.