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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

cabotagem

     
    Estou tão habituado ao céu estrelado acima de mim e, eventualmente, à lei moral em mim, que me perco constantemente na perceção da existência como navegante no mundo onde há um mar de gente. Amo a navegação à vista e raramente utilizo o periscópio da alma: aprecio os navegadores que olham mais para a terra do que para o mar, como o veneziano Sebastião Caboto do século XVI que entrou no rio Prata em busca da mítica Serra da Prata na América do Sul. Foi-lhe reconhecido de tal forma o feito, que se batizou com o seu nome uma maneira de navegar, a cabotagem. Velejar no mar sem entrar nos rios é por ventura andar mais perdido e errante. O grande rio emudece no mar onde outras vozes se levantam, a sua morte engrandece o horizonte.
     É na terra que os rios são rios, águas passadas, presentes e futuras. Só nela temos a oportunidade de destruir os ídolos porque têm pés de barro. Às vezes sinto-me um cabotino quase silencioso na consciência de que mais do isto não posso ser, dada a minha ignorância e cegueira, por excesso de luz ou por falta dela. Sou um saltimbanco existencial sem rito enquanto Cronos me devora as entranhas na espuma dos sentimentos,

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

Publicidade e Propaganda - a Grande Manipulação

    O discurso publicitário e o discurso de propaganda política são formas argumentativas do quotidiano a que quase todas as pessoas estão sujeitas, principalmente através dos meios de comunicação social, jornais, rádio, televisão e Internet, nomeadamente redes sociais e a blogosfera. Ambos os tipos de discurso têm por finalidade convencer ou persuadir o auditório. Tanto o discurso publicitário como o de propaganda política têm intensidades diferentes ao longo do tempo. Aquele, apesar de diariamente estar presente em muitos suportes, está fortemente sujeito a fatores como a época do ano, a eventos sociais e religiosos e a necessidades particulares de grupos específicos de pessoas, sejam temporárias ou permanentes. Já o discurso de propaganda política, apesar de parecer que as campanhas políticas são permanentes, pelo menos nas comunidades de cultura política democrática, pluripartidária ou não, é mais intenso quando há eleições ou quando surgem casos mediáticos despoletados pelos mass media ou outros agentes, como a guerra na Ucrânia, por exemplo, e que entram no domínio público, de tal modo que são integrados na opinião pública. Estes dois tipos de discurso evoluíram, principalmente a partir do último quartel do século XX no sentido de uma crescente convergência. Muitas das técnicas de propaganda política são hoje semelhantes às da publicidade, vende-se uma ideia, um projeto político-social e mesmo a justificação de uma guerra, como se vende um produto ou um serviço. Ambos os discursos pretendem ser sedutores e convencer ou persuadir pela imagem visual ou acústica, de modo a penetrar consciente ou inconscientemente nos membros dos auditórios respetivos. Na publicidade o auditório é específico, mas tendencialmente universal, isto acontece cada vez mais  também na propaganda política.      
    Ambos os discursos podem ser manipuladores na medida em que fazem promessas veladas e jogam com os sentimentos e emoções do público no sentido de controlar comportamentos, seja a aquisição de bens ou serviços, ou a escolha de um projeto social ou de uma ideologia. O discurso publicitário é sempre composto por mensagens curtas associadas a imagem ou som, com pouca informação objetiva, de modo a captar a atenção facilmente. Já o discurso político pode ter mensagens mais extensas, dado que um candidato a uma eleição ou  um representante de uma ideologia, por vezes, discursam para auditórios particulares ou para auditórios mais alargados através dos mass media como a TV, durante um tempo muito mais extenso do que qualquer spot publicitário.
O que se passa hoje a propósito das guerras, nomeadamente a guerra na Ucrânia, que inunda os ecrãs televisivos a toda a hora e em todos os canais, é também, na maior parte dos casos, pelo que tenho visto e ouvido, imensa manipulação a uma só voz, aparentemente diversa, mas essencialmente repetitiva, que deixa de fora a possibilidade de os cidadãos terem acesso a diferentes perspetivas de análise dos acontecimentos, sendo levados a "concordar" com a perspetiva dominante dos donos das televisões. Não podemos nem devemos, por isso, acreditar em tudo o que nos querem vender. Há, de facto muitas mais guerras e conflitos que decorreram, não há muito tempo e a decorrer, na Síria, na Líbia, no Iémen, na Palestina, etc.. Contudo as nossas televisões praticamente não os mostram, para nos dizerem que só uma importa, aquela que nos mostram, ocultando tudo o resto.
Quase toda gente se diz contra a guerra e muito bem, mas não basta isso, é preciso ir mais além, estudando história, analisando racionalmente os complexos processos que nos conduziram a tudo isto, a partir do maior número de pontos de vista, sem reduzir as explicações a epifenómenos simplistas e maniqueístas. Não é fácil, mas não é impossível.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Diversidade individual e cultural


A diversidade individual deriva fundamentalmente da constituição genética, do ambiente em que se vive e da cultura em que se está imerso. A diversidade cultural resulta principalmente de fatores de natureza geográfica, ambiental, histórica e também do modo como as culturas se relacionam umas com as outras. As diversidades individuais e culturais dizem respeito às diferenças entre indivíduos e culturas. Essas diferenças são positivas na medida em que nos conduzem ao questionamento e à dúvida sobre os nossos pontos de referência. Esta dúvida resulta do contacto com indivíduos diferentes e muitas vezes de culturas diversas. Muitos dos nossos problemas, como os preconceitos, por exemplo, só poderão ser resolvidos se tivermos vivências e interações com modos de vida, pensamento e ação diferentes dos nossos. A diferença e a nossa disposição para a observar e escutar, leva-nos à aprendizagem e ao enriquecimento, o que é essencial para nos transformarmos e mudar positivamente os contextos em que vivemos.

Nota:  Há um Dia Mundial da Diversidade Cultural e para o Diálogo e o Desenvolvimento - 21 de maio de 2022

sábado, 3 de dezembro de 2016

Padrão Cultural Português




O padrão cultural português define-se, em primeiro lugar, como pensamento português, aquela forma de imaginar, dizer ou escrever, comum a todos os portugueses: o exercício da língua portuguesa. Dela faz parte a literatura identitária no seu expoente mais significativo, como Camões, Padre António Vieira, Fernando Pessoa, Eça de Queiroz e Camilo Castelo Branco, José Saramago e António Lobo Antunes, ilustres e esclarecidos representantes da alma portuguesa, António Aleixo, poeta popular, bem como todo o espólio de ditados populares que conhecemos e a linguagem oral espontânea na vivência do dia-a-dia, influenciada pelos símbolos da cultura portuguesa: a bandeira e o hino nacionais, o galo de Barcelos, a torre de Belém, os símbolos relativos ao desporto, principalmente o futebol, a religião dominante, católica, a música, nomeadamente o fado cantando a saudade, a gastronomia mediterrânica e os hábitos alimentares presentes no quotidiano e nas feiras e romarias.