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quinta-feira, 14 de outubro de 2021

DIA INTERNACIONAL DA MULHER RURAL

(15 DE OUTUBRO)

Neste dia, que é mais um, entre muitos outros, que nos podem fazer refletir sobre causas e problemas, independentemente de concordarmos ou não com dias para isto ou para aquilo, faz sentido pensar sobre o tempo e sobre o trabalho em que se encontraram e se encontram muitas mulheres.

Ocorreram-me a este propósito duas obras de arte que nos fazem pensar sobre o tema em questão, uma pintura e um filme.

As Respigadoras - é uma pintura a óleo sobre tela do pintor francês Jean-François Millet de 1857 que se encontra no Museu de Orsay em Paris.


O quadro representa três camponesas ao respigo de espigas de trigo caídas no chão após a colheita. A pintura tornou-se famosa por apresentar de forma simpática as que então eram as camadas mais baixas da sociedade rural, tendo sido mal recebida pela alta sociedade francesa da época.
(Fonte: Wikipédia)

Este trabalho de andar ao respigo (rabisco) parece ser só dos séculos XIX e XX, mas talvez não seja assim exatamente.
Veja-se, por exemplo, a imagem seguinte, baseada na pintura que referi, do século XIX:

Fonte: Blogue "Geografia Hoje"

Há um filme, "Os Respigadores e a Respigadora" (Les Glaneurs et la Glaneuse) de Agnès Varda, sobre os respigadores da sociedade contemporânea, pessoas que se dedicam a recuperar e a reciclar sobras e detritos que outros deitam fora, que nos interpela vivamente sobre estes fenómenos contemporâneos. Obteve inúmeros prémios, entre os quais se destacam o de melhor documentário dos prémios europeus, melhor filme pelo sindicato francês dos críticos de cinema e o Golden Hugo para melhor documentário no festival de Chicago, no ano 2000. Creio que vale a pena vê-lo ou revê-lo.
Isto a propósito do fenómeno do êxodo rural que se mantém e que não resolve nenhum problema de fundo, nem daqueles que saem das terras do interior nem daqueles que vivem no litoral, antes agrava os problemas de todos, nomeadamente os ecológicos e do planeta.
Muitas das gentes, principalmente mulheres, que vão para as grandes cidades, principalmente no litoral, são pessoas de fraca qualificação profissional e que enfrentam grandes dificuldades para conseguir um trabalho digno e bem remunerado. Como se sabe, só o Alentejo, por exemplo, perdeu nos últimos dez anos 7% da sua população, em grande parte pelo êxodo também rural. Só houve um concelho, dos 47 da região Alentejo a ver um aumento da sua população, também pelas más razões conhecidas do grande público, pessoal imigrante de países subdesenvolvidos para trabalho escravo e sub-humano para culturas intensivas e superintensivas no concelho de Odemira.
Esta é uma tendência que parece não ter fim. Até quando? 
Será que as pessoas acordam e se opõem a isto, criando condições para que haja uma distribuição equilibrada da população em harmonia com a cultura, com a tradição e com as paisagens tradicionais? Quando será possível viver bem e ter acesso ao essencial em qualquer lugar do nosso país e do mundo? O que é necessário fazer? 

Ficam as perguntas, no entanto creio que as respostas, para além de serem políticas, tais como as questões, terão de ter por base uma inspiração fortemente verde e de esquerda, responsável e solidária, cujas soluções ainda não foram globalmente experimentadas.