quarta-feira, 23 de dezembro de 2020
AVÓS
sábado, 19 de dezembro de 2020
Natal
Porque nos aproximamos da época natalícia, ocorreram-me algumas palavras que talvez mostrem que o Natal é, não só das crianças, mas também da criança que vive em cada um de nós.
O NATAL E AS CRIANÇAS
As crianças correm, saltam, riem, choram,
vivem desmedidamente, dançam à chuva,
brincam nas poças de água, espantam-se
com a beleza de todas as coisas,
acham tudo natural, criam formas de arte incríveis.
domingo, 6 de dezembro de 2020
NOSTALGIA
Inconsciente criança,
que ainda cá moras,
a brincar aos índios e cobóis,
a fingir-se de morta
pelo tiro da flecha imaginária,
nos verdes campos
de borboletas brancas,
de carreirinhos e correrias,
de saltos de cavalinho de pau,
exibindo a sua quixotesca espada
de madeira, desafiando o vento
e seus moinhos colossais.
Eram assim, às vezes,
as mágicas tardes de domingo
que povoam ainda hoje
os mais eficazes sonhos
da razão da existência e da natureza,
a quem sou muito grato.
quarta-feira, 25 de novembro de 2020
ÁRVORE
Quando era menino,
às vezes apetecia-me ser árvore.
Só porque as árvores podem ser altas
e quanto maiores são as suas raízes
mais alto chegam, e aí podem conviver
em abundância com os pássaros.
As árvores ondeiam ao sabor da seiva,
com suas raízes, seus ramos,
suas folhas, flores e frutos.
Serpeiam como o vento a ventar,
como a maré subindo e descendo
na infinitude do mar.
Seria árvore e, à noitinha,
sentiria a insistência da Lua
com o seu luar na floresta
semeado de faiscantes
cristas de luz viva e clara.
E aí teria o sonho da Terra inteira,
sem fronteiras, vivaz, solidária,
fraterna e livre, como a utopia séria.
Terra forte e farta, onde se cantaria
e dançaria sem preconceito
como os pássaros, num rodopio amoroso
onde todos seriam do mundo
que não é de ninguém;
só bons selvagens
como a floresta da natureza,
nossa mãe.
segunda-feira, 9 de novembro de 2020
novembro
Quando olho para a cara das pessoas
e não gosto do que vejo, desconfio,
quando gosto, acredito.
Não é que queira, não posso decidir
os desejos, meus ou de quem quer que seja.
Às vezes é preciso olhar, ver, contemplar,
procurar o infinito que há em tudo.
E então surgem as palavras, nascem e crescem
como cogumelos, cristais, cerejas, conversas.
Não são retratos de coisa nenhuma.
Não são teatros da realidade, são a realidade no palco.
São manhãs frias de novembro com o chão do quintal
cheio de lágrimas do tempo com folhas amarelas de melancolia.
São tardes tão lúgubres que nem as saudades matam,
são noites de intempérie à espera da queda de todas as máscaras.
Às vezes sinto este novembro nos ossos como se fosse dezembro sem natal.
E dá-me para perguntar: que mal fizeram a Deus os inocentes?
terça-feira, 6 de outubro de 2020
outubro
setembro mais um, outubro,
literalmente, como agora tanto se diz,
e faz-me pensar, talvez por estranheza ou espanto,
num animal de oito braços bem fortes
que se mostra da cor do outono quando quer,
espalha tinta em autodefesa,
pinta como um artista,
escreve como um poeta
sem esqueleto e sem forma definida
edificando o seu mundo
de olhos humanos e bico quitinoso,
ostentando uma grande cabeça,
humano demasiado humano,
perguntando, e se neste mês eclodisse
uma revolução que destruísse o pecado,
varresse a culpa e apagasse o ressentimento do mundo?
domingo, 4 de outubro de 2020
Dia mundial do animal - 4 de outubro
domingo, 27 de setembro de 2020
setembro
Setembro tem nome de número, sete,
e é o nono porque março já não é o primeiro.
Foi neste mês dos arcanjos que vim ao mundo,
e dos dias dos meus anos de há muitos anos,
recordo bem dois deles:
quando perfiz nove e quando atingi os doze.
Aos nove, no dia doze, houve direito a bolo
com pauzinhos de fósforos a imitar as velas
para eu apagar e parabéns cantados que, no final,
me deixaram num vale de alegria com lágrimas.
Aos doze o ar era quente, o dia claro, antes de almoço,
eu e os meus queridos irmãos, na apanha das
passas de figo nas terras a que chamavam chãs.
Aparecem uns tios meus à entrada da aldeia,
vindos da terra dos fenómenos, com a filha
falando, casas hoje os anos, doze a doze, parabéns.
Trago sempre comigo aqueles momentos,
com os meus sete irmãos e a minha mãe
que andava lá por perto com o meu pai que já morreu.
Esta memória é uma emoção tão forte que me arrepio todo,
éramos felizes todos juntos e quase não dávamos por isso!
quinta-feira, 3 de setembro de 2020
ACORDAR
terça-feira, 1 de setembro de 2020
agosto em Campo Maior
sexta-feira, 17 de julho de 2020
julho
cuja efígie no denário se impõe,
leva ao amor em todo o coração
e em toda a alma e em todo o entendimento,
amarás o teu próximo como a ti mesmo.
Pague-se a César o que é de César,
pague-se a Deus o que é de Deus.
Em julho amor com amor se paga
porque há tempo para tudo, longo mês,
grandes dias, infinitas perguntas.
O que é o amor? Quem sou eu?
E dou por mim a dar o que não tenho,
palhaço de mim mesmo, incompleto,
dependente, a correr da vida, como
uma lagartixa que foge de quem lhe cortou
o rabo que salta na terra quente sem regra.
Julho dá o pão e o gorgulho,
aremos e fiemos, pois, e ouro criaremos.
Mas para quê tanta riqueza,
se o essencial é invisível aos olhos?
Além, mais além, há ilhas floridas,
águas frescas, vento soprando, trigo limpo,
danças, quadros vivos de Matisse,
confinamento verde, azul, laranja-terra,
num turbilhão louco de mãos dadas,
nus, como no paraíso perdido inicial.
Em julho tão quente e tão perto,
tão simples e tão certo, leva-me contigo
a ver as estrelas das planícies
e a tremer de encanto com o canto das aves.
terça-feira, 7 de julho de 2020
junho
Cálidas aragens,
acanhadas as noites, não os dias.
Meio ano vencido,
outra metade para sonhar,
trabalha a formiga
enquanto nos encanta a cigarra,
segunda-feira, 11 de maio de 2020
maio
apresentaram-se as
cerejas e os pirilampos e tantas,
tantas flores, riachos encantados,
carreirinhos nos bosques
animados pelos amores:
maio moço a chegar,
alcântara para o verão que dorme
alcandorado no tempo da saudade
que em nós demora.
Maio lágrimas à distância,
sonhos por realizar,
pecados e corpos por animar.
Maio música feita de amor e de silêncio
enquanto o sol seca o que o tempo molhou.
Maio flor e fruto, semente na terra fria e ardente.
Maio toda a gente, mares desejados,
jogos da cabra-cega ao lusco-fusco,
prados e serranias, praias, aldeias
onde moram litanias, luzes pequeninas
bruxuleantes e céus, cruzes e estrelas,
aqui no cantinho da galáxia
onde nascemos, onde nos encontrámos
e de onde jamais sairemos
por sermos próximos e amarmos,
à moda de flores e abelhas,
como velas ao vento acesas.
sábado, 25 de abril de 2020
25 de abril
Viva o 25 de abril
quinta-feira, 23 de abril de 2020
abril
ainda que só em pensamento, sem desconfiar,
para abraçarmos a primavera