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quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

Natal de Adofreire

O céu estrelado.
O musgo frio, as ovelhas
e os pastores velando por elas.
A mãe de Jesus,
o pai adotivo do menino,
o burrinho e a vaquinha.
Os reis magos ao longe,
guiados por uma estrela
sobre a gruta humilde e fria.
Na noite meio-luminosa,
um lago brilhante
de folha de alumínio.
O menino quase nu
na manjedoira bafejada.
Na rua, junto à capela,
a fogueira enorme,
brilhante de espadas de chamas
desafiando os céus.
E no dia seguinte de manhãzinha,
os sapatinhos com as prendinhas
no silêncio frio da chaminé.
Um paizinho natal de chocolate,
uma escovinha de dentes,
umas meias para o inverno.
A memória do quentinho da lareira
e o frio lá fora e as brincadeiras
das crianças, os risos, as férias,
a descontração de ser feliz
quase sem dar por isso.

Eram assim os natais
quando todos os nossos entes queridos
estavam vivos e quase ninguém chorava
porque o futuro parecia infinito.