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quarta-feira, 30 de abril de 2014

elementos

envelhecemos com a vida a rasteirar-nos
as palavras que jamais salvarão o mundo
a poesia não salva ninguém 
progride na inevitabilidade
da negação de todas as possibilidades
vivemos morrendo aos poucos
nada  nem ninguém nos salvará
do precipício final que nos aguarda
a prosa poética e a poesia infinita
cantam a solidão e o absurdo
levam-nos a apanhar chuva
sem enregelarmos e a sentirmos frio
com um sorriso de espanto
perante o mistério tão belo e tão verdadeiro
como o pintassilgo cantante da primavera
de plumas vivas, verdes, amarelas, vermelhas
saltando de ramo em ramo na árvore 
feita de terra, água, ar e fogo.

quinta-feira, 17 de abril de 2014

osmose

sou uma borboleta na noite
a bater contra a vidraça
investindo na insónia da luz
quem me dera ser crisálida 
infinitamente e sonhar
apenas o sono ardente
de quem não sente o sentimento
de quem não sofre o sofrimento
afogado no mar da infância
na inocência de ser feliz
como o gato deitado ao sol
de patas esticadas nas promessas
de não ter futuro, passado ou presente
tempo em que acordava cedinho
e descia pelos carreirinhos das encostas
a observar os pássaros e as libélulas
cantando a terra, sibilando o arco-íris
e por osmose diluía-me no nirvana do universo.