depois de encetar o ritual diário
uma espécie de oração da manhã
olhando de relance as parangonas
para confirmar como algumas
tocam a realidade que se esconde
atrás do nevoeiro infindo das coisas
na opacidade do papel
na escuridão do pensamento
parto para a fase seguinte
saborear o sal gorduroso das torradas
deglutir a cafeína e todos os aromas
só depois exponho a pele inteiramente nua
à chuva equatorial para me livrar
sem pensar nisso,
de umas quantas células
até que na próxima lua seja outro por fora
e quase outro por dentro
como máquina que se desconhece
cubro a pele de fibra
envolvo quase todo o meu ser com um véu
para que ninguém me descubra sem eu querer
depois torno-me figura pública e só dou
um pouquinho de mim ao mundo,
uma quantas vibrações sonoras
até ficar sem tempo e sem voz
retomo depois o ritual solitário
ingiro alimento de pobre saudável
descanso as articulações do pensamento
os ossos da alma e os músculos do cérebro
e sento-me na minha nuvem doce
desenhando as curvas da felicidade
na sombra dos amplexos que sonho
todos os dias até adormecer
todas as noites até amanhecer.
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