Quando era menino,
às vezes apetecia-me ser árvore.
Só porque as árvores podem ser altas
e quanto maiores são as suas raízes
mais alto chegam, e aí podem conviver
em abundância com os pássaros.
As árvores ondeiam ao sabor da seiva,
com suas raízes, seus ramos,
suas folhas, flores e frutos.
Serpeiam como o vento a ventar,
como a maré subindo e descendo
na infinitude do mar.
Seria árvore e, à noitinha,
sentiria a insistência da Lua
com o seu luar na floresta
semeado de faiscantes
cristas de luz viva e clara.
E aí teria o sonho da Terra inteira,
sem fronteiras, vivaz, solidária,
fraterna e livre, como a utopia séria.
Terra forte e farta, onde se cantaria
e dançaria sem preconceito
como os pássaros, num rodopio amoroso
onde todos seriam do mundo
que não é de ninguém;
só bons selvagens
como a floresta da natureza,
nossa mãe.