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domingo, 29 de outubro de 2023

25 de ABRIL

Abril de novo
pela força do povo
a lutar pela liberdade.
Cravos vermelhos
não se fazem velhos,
trazem consigo a verdade.
São o sentido mais puro,
o amor fraternal,
agora e no futuro
num imenso Portugal.

Vida

A vinda de cada um ao mundo não foi por si decidida, ninguém pediu para nascer, o princípio da existência de cada ser humano deve-se a razões extrínsecas a ele próprio.
Continuar a viver e como fazê-lo já é outra história. É preciso crescer, é preciso aprender. Ninguém aprende sozinho, ninguém cresce só.
À parte isso, quase tudo devemos ao pai e à mãe, foi deles a incomensurável coragem de nos trazer ao mundo e de nos incentivar a caminhar na urgência da vida.
Homenagear os nossos pais é seguir-lhes os trilhos e imitá-los ancorados nos mesmos princípios: paz, liberdade, amor.
Assim estará garantida, do que humanamente depender, uma vida boa para todos. Haverá amizade, respeito, trabalho sem alienação, partilha das riquezas sociais, económicas, culturais e muitas e longas vidas saudáveis e felizes.
Nenhuma vida será perfeita, com certeza, mas nenhuma será uma vida perdida.

Dia do abraço

Com o andamento do tempo
e as voltas que a vida dá,
como borboleta em fuga
vou perdendo escamas
por entre os cardos do campo
numa aflição de querer viver
enfrentando as ondas
de um inóspito mar de vento.
A realidade apanha-me de soslaio,
desequilibrado fico, e só não caio
porque alguém me encontrou
e com um abraço me salvou.

Crianças

São crianças,
correm, saltam, riem,
dançam à chuva,
chapinham desalmadamente
nas poças de água,
tudo têm por natural,
aquém e além do bem e do mal.
Brincam aos médicos e enfermeiros,
aos professores, aos pais e às mães,
aos super-heróis, aos irmãos,
aos agricultores, aos poetas.
Anseiam por crescer
para serem
astronautas, polícias, bombeiros,
pilotos de fórmula um,
maestros da banda filarmónica,
advogados dos desvalidos.
Têm o mundo a seus pés,
são príncipes e princesas,
fadas e gnomos,
espadachins surpreendendo
monstros nas florestas encantadas.
Dançam de roda de mãos dadas,
jogam ao pião, ao berlinde,
ao salta carneiro,
ao mata, às escondidas.
Transportam repetidamente
o balde de água do mar
e lançam-na sem desistir,
na areia da praia.
As crianças são a poesia
em movimento, a seiva das plantas,
o bom vento, a fragrância das flores,
a alma do mundo,
as cores combinadas do arco-íris.
Brincando laboriosamente em todo o lado,
semeiam, numa inocência eficaz,
o futuro, a vida, a liberdade e o amor.

Dia de Portugal

O Adamastor é uma figura mitológica do poema épico "Os Lusíadas", de Camões. No contexto do poema o Adamastor, diz-se, representa uma personificação do cabo das Tormentas (mais tarde chamado Cabo da Boa Esperança), um dos obstáculos e medos enfrentados pelos navegadores portugueses durante as suas explorações marítimas.
"O Mostrengo" é um dos poemas mais conhecidos da obra "Mensagem" de Fernando Pessoa. Neste poema, "O mostrengo" pode representar uma figura alegórica que simboliza o medo, os desafios e as adversidades enfrentadas pelo povo português ao longo da sua história.
Depois do alerta destes dois génios da literatura portuguesa, Camões e Pessoa, que nunca é demais ler e reler, o que falta fazer para nos realizarmos como Povo numa autêntica comunidade de igualdade, fraternidade e liberdade? O que é necessário para cumprir Portugal?

A arte espanta

A arte espanta, martela,
quebra, estilhaça, desconstrói,
reconstrói, vivifica.
Pela arte entra-se no mais pregnante
processo de valorização da vida.
Arte e vida podem, por isso,
identificar-se em muitos momentos
da existência de qualquer ser humano.

14 de julho

Hoje há tanta claridade
no ar e um azul tão solto
e inconfundível
que sou dado a sentir,
a partir do verde movimento
dos braços das árvores,
o brilho e a obscuridade,
como ideias que me fustigam.
Assim nasce-me
a vontade de ler palavras
que nunca li
e de ver paisagens
que nunca vi,
só para fruir o jogo de luz e sombras
e atingir o cansaço alegre
das crianças quando decidem
finalizar o jogo do sério.

AMIGO

Para ti há sempre
pão quente, queijo
e doce de mirtilos,
melão com presunto,
vinho branco fresco,
cerejas, pêssegos e melancia;
são víveres que apreciamos.
Procuro uma taça
para guardar
todos esses sabores
com um abraço infinito.
É a taça da amizade,
encontrei-a,
segura-a com cuidado,
meu amigo.
É feita do desequilíbrio
necessário e suficiente
dos ângulos das nossas vidas,
das desventuras partilhadas,
das surpresas conquistadas.
Guarda-a como um tesouro,
tem lá dentro a interseção
das nossas memórias
e o nosso sangue a pulsar
alegria para toda a eternidade.

NATUREZA MORTA

As frutas adormecidas
no baloiço do tempo
serão tragadas
numa hora desconhecida
e a fruteira restará vazia.
Não têm sistema nervoso
mas sim casca como pele.
Nasceram, vivem e morrerão,
tal como nós, dentro da película fina
ou cascuda que nos envolve.
Cumpre-se a natureza
enquanto nós, como jovens
a tentar mudar o mundo,
esgrimimos argumentos
como D. Quixote
a enfrentar gigantes.
À parte isso, com ou sem vontade,
só nos temos uns aos outros
para cumprir naturalmente
a humanidade.

LUA CHEIA

Ouvi dizer,
olha a Lua,
cresceu e agora está cheia.
Ao vê-la assim,
fico com a consciência
cheia de Lua
e isso apraz-me.
Quando era menino
disseram-me que a Lua
era mentirosa.
Não queria acreditar
porque não via lógica
na Lua como causa
e autora da mentira.
Ainda acho
que a Lua é verdadeira,
por isso identifico-a
com a verdade
e vejo-a a sorrir,
ao contrário
do que me diziam.
E apetece-me proclamar,
Lua como és bela,
leva-me contigo a passear
por esse universo fora
e a juntar o amor
e todos os sorrisos
do mundo para derrotar
de uma vez por todas,
o ódio, a perfídia e a mentira.

AGOSTO

Os rios choram paulatinamente,
os lagos sofrem todas as suas imagens,
as gaivotas pensam o sacrifício dos peixes,
as feras sonham com as suas presas,
os vulcões esperam pacientemente
pela hora de expelir a lava ardente,
os marinheiros alimentam a expetativa
dos ventos alísios e do seu ímpeto
de leste para oeste
à procura de um mundo novo.
Em agosto toda a fruta tem gosto,
não percamos da vida a esperança,
depois da tempestade há-de vir a bonança.

GATOS

Meigos e selvagens,
assertivos e determinados,
altivos e fofinhos,
os gatos, joias da criação,
merecem a nossa admiração.
Quando os alcanço ao sol
com o tom da sua calma
usufruo da argúcia
dos seus finos olhares.
Se não são felizes, parecem-no,
por isso gostamos deles,
respeitam-nos sem ressentimentos,
não nos cobram tristezas
e fazem-se respeitar
mais do que alguns humanos,
por isso têm sete vidas
enquanto nós só temos uma.

FOTOGRAFIA

Pelos nossos olhos passam imagens,
verdadeiras ilusões de óptica,
não são uma cópia
perfeita da realidade
mas permitem-nos entrar
no mundo dos sonhos.
São estes que nos garantem
as surpreendentes viagens
da vida e as emoções,
tanto as fáceis como as difíceis,
que configuram a nossa essência.

FUNDAMENTO

As galáxias e suas miríades de astros,

o Sol que nos ilumina, os planetas,
a sequoia de Serralves, a planície Alentejana,
as águas do Nilo, lágrimas do Assuão,
as múmias do museu britânico roubadas ao Egipto,
o friso do Partenon subtraído à acrópole de Atenas,
a pedra de roseta do império otomano,
os filhos desejados, os jogos de toda a sorte,
as viagens reais e imaginadas aos confins do mundo,
as filosofias, as religiões, todas as artes,
D. Quixote, Rocinante, Sancho Pança, Dulcineia,
os Lusíadas, a ilha dos amores e os deuses,
o Adamastor, o velho do Restelo,
o bíblico cântico dos cânticos,
as montanhas-russas reais e virtuais,
a quinta sinfonia em dó menor opus sessenta e sete de Beethoven.
Tudo parece imerso numa onda infinita,
tudo mexe e remexe e repousa, tudo cai ou se eleva,
tudo vagueia sem saber porquê ou para quê.
Tudo procede do nada
e incessantemente se desdobra
nos mais incríveis adejos
em busca do princípio da razão suficiente.
Como é estranho, admirável e fascinante
este mundo, nele podemos erguer as taças
em honra do amor e da amizade,
fundamentos de tudo e da sua finalidade.

OUTUBRO

 OUTUBRO

Setembro mais um é outubro,
o que nos pode fazer pensar
no oitavo mês do calendário romano,
e por semelhança numérica,
num animal de oito braços
que se mostra na cor do outono,
de olhos argutos e bico quitinoso,
de grande cabeça, sem esqueleto
que o defina.
Espalha a sua tinta quando quer,
pinta como um artista,
escreve como um poeta,
edifica o seu mundo
quase humano, perguntando,
e nós com ele, (por que não?) :
e se neste mês eclodisse
uma revolução
que destruísse o pecado,
varresse a culpa
e apagasse todo o ressentimento
do mundo?