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quinta-feira, 6 de outubro de 2016

calor de outono


com o calor de outono
a inchar  as veias
o sangue late-me
como um cão aflito
de um mendigo
numa rua fétida
ouço-o tão vivamente
como o mar num búzio
vagabundo, remendado
aceitando moedas pretas
os rios do sangue
trazem luz e consciência
o nosso destino 
fogo que queima como ferrete
carne viva que dói
corpo contorcido entregue
à fogueira das vaidades
e tudo no fim, como a alegria
os espinhos das roseiras
suas folhas e as próprias rosas
e os verdes ramos
será cinza de uma vida 
de uma combustão atenta
de uma tortura, às vezes feliz
enlaçada nas raízes de vinho
que não há-de ser bebido
conduzido à substância ácida
corroendo paixões, escavando
na dureza das rochas, as cavernas
as tocas, as grutas do amor
a aí ficará a nossa história
gravada nas camadas sucessivas
dos restos das nossas existências
como tentativas de ser

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