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quarta-feira, 28 de julho de 2021

Natureza

 Dia mundial da conservação da natureza

Hoje, 28 de julho, dia mundial de conservação da natureza, recebi, sem solicitar, na minha caixa de correio, cerca de 300g de papéis publicitários (100 folhas A4) de diferentes empresas, nomeadamente de supermercados.

Esta papelada, que me é remetida várias vezes por mês, é impressa a cores com fotografias e desenhos a cores de alta qualidade de todo o tipo de produtos e mercadorias. Os custos de produção desta publicidade são, com certeza, muito significativos no domínio do investimento financeiro das empresas. Mas, se estas práticas continuam, certamente é porque valerá a pena, para as tais empresas, algumas multinacionais, do ponto de vista do aumento das vendas, do consumo e logicamente do lucro. Este parece ser o principal, se não o único, objetivo dos seus donos e acionistas.

Portugal tem, segundo dados da Pordata, um pouco mais de 4 milhões de famílias clássicas. Imaginemos que cada família recebeu, o que é bem possível, no dia de hoje, os tais 300 gramas de papéis publicitários.  Poderão ter sido distribuídos 1 200 toneladas de papéis publicitários (400 milhões de folhas A4) às cores por todas as caixas  de correio deste país.

"Uma árvore padrão na produção de papel, como o eucalipto, é capaz de produzir 20 resmas de papel. Como cada resma possui 500 folhas, 20 resmas possuem 10 mil folhas tamanho A4 de 75 g/m2  por tronco. Se uma árvore é capaz de dar vida a 10 mil dessas folhas, isso significa que para produzir uma folha de papel é necessário 1/10.000 de árvore."(1)

Deste modo, para produzir publicidade em papel para um dia, para as famílias clássicas portuguesas, será necessário abater 40 árvores.

Abate de árvores completamente desnecessário. Na minha casa, como com certeza em muitas outras, a publicidade nem sequer chega a ser lida, vai direitinha para o contentor da reciclagem de papel.

Os números aqui apresentados podem não ser rigorosos, mas fazem-nos pensar no estilo de vida que temos e no que queremos.  Na sociedade individualista, consumista, capitalista, concorrencial,  em que vivemos, em que o lucro de alguns comanda  quase todas as atividades de quase todos, não vai ser possível viver a  médio e longo prazo com qualidade, porque o equilíbrio entre os humanos e a natureza e  a preservação da biodiversidade não estão a pautar o planeamento e a ação necessários. As árvores são essenciais para o equilíbrio dos ecossistemas e para a nossa  qualidade  de vida. É mais do que tempo de inverter políticas de desperdício, das quais apenas apresento aqui um exemplo. Para isso são necessárias opções individuais, que juntas serão coletivas, elas estão na nossa mão.




(1) https://www.pensamentoverde.com.br/

domingo, 18 de julho de 2021

AMAR UMA PEDRA

Como nos sonhos, passo o tempo a inventar porquês.

Indiferentes, os eletrões, o sol, a via láctea,

continuarão por aí, sem consciência, julgo eu, 

indiferentes à vida, à morte e ao sentido de tudo isto.

E se o sentido da vida for ela não ter sentido nenhum?

O universo, como a vida, é mortal e finito,

mas a invenção de porquês continua.

Nenhuma resposta existe fora de nós.

Na aflição da consciência, ora leve ora pesada, 

descobrimos o valor, o significado e  o propósito, 

pouco mais do que teatros, comédias e tragédias. 

Mas o mundo continua a vibrar, como cordas de alaúde,

e nós, ao vibrarmos com ele, sentimos a impressão

da liberdade, como Fernão Capelo Gaivota, voando 

ou Fernão Mendes Pinto, peregrinando.

Liberdade sem livre-arbítrio, 

ser e não ser, ao contrário de Hamlet.

Ai que bom sentir a manhã  de água fresca,

realidade e ilusão verdadeira e boa.

Submergido como uma  tremelga, 

vou descarregando choques  elétricos nos outros

e recebo os ricochetes na justa medida, 

não há dar sem receber, principalmente 

quando se oferece o desassossego.

Às vezes, irritado, anseio por um mundo

onde seja natural até, amar uma pedra.