1 Os cientistas de hoje não têm que percorrer
todos os caminhos de investigação que os seus antecessores trilharam para
compreender e aceitar legitimamente as suas conclusões. Todo o trabalho
pioneiro efetuado, por exemplo, por Galileu no século XVII, para concluir tanto
a lei da gravidade como o movimento da terra, é facilmente corroborado ou
confirmado a partir de experiências agora simples e já quase do senso comum.
Partem para novas aventuras de descoberta baseados em conhecimentos
universalmente aceites na comunidade científica. A ciência para além de um
processo complexo de investigação baseada na relação entre a experiência
sensível e o pensamento, recorrendo sistematicamente a métodos empíricos, é, também, uma acumulação de conhecimentos contextualizados que podem ser consultados por
quem quiser. Os problemas da ciência do século XXI não são os do século XVII ou
XVIII, são aqueles que correspondem a novas interrogações determinadas pela
observação de novos fenómenos e resolvidos dentro de novos paradigmas.
A
filosofia, etimologicamente o amor à sabedoria, apresenta como problemas
essenciais questões para as quais não é possível uma resposta universal. Saber
o que é a justiça, o bem, o belo, qual a melhor forma de governo, qual o valor
da ciência, a origem do conhecimento e os seus limites, é o resultado de um
caminho coletivo mas também individual, de reflexão aprofundada, que nem sempre
se traduz em conclusões aceites universalmente. O itinerário ou caminho
filosófico tem de ser meditado e refletido individualmente para que haja uma
compreensão de tudo o que de essencial foi pensado e assim se poder criar um
pensamento novo alicerçado na crítica sempre necessária. A filosofia tem com
certeza os seus êxitos, por exemplo, Sócrates na antiguidade fundou a ética que
é tão necessária hoje como era há dois mil e quinhentos anos. Mas como os seres
humanos vivem em contextos diferentes terão de pensar e repensar as respostas à
luz da sua vida, aqui e agora, e as soluções para os problemas, para além de
serem individuais, são coletivas, mas não podem fugir à história ou à época em
que se inscrevem. Quem não meditar sobre a filosofia do passado não consegue
ter dela nenhum proveito, ao passo que quem acreditar com compreensão nos resultados
da ciência pode perfeitamente usufruir deles. Fruir a filosofia é fazer filosofia, fruir a ciência não significa necessariamente fazer ciência, mas antes compreendê-la e aproveitar as suas respostas.