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sexta-feira, 20 de março de 2015

felicidade



O dia internacional da felicidade é comemorado a 20 de março, coincide com o equinócio da primavera. A criação deste dia, como internacional e da felicidade, surgiu por proposta do Butão, um pequeno reino budista dos Himalaias, em 2012 na ONU, e foi aprovada por unanimidade pelos 193 estados-membros. O Butão adota como estatística oficial a "felicidade nacional bruta" em vez do " PIB - produto interno bruto". Provavelmente o PIB não expressa o valor da felicidade que, desde Aristóteles (384 a C - 322 a C), é filosoficamente o objetivo fundamental de muitos seres humanos. O PIB mede a riqueza económico-financeira e não a riqueza humana. A felicidade não tem relação causal com a riqueza, pelo menos a partir de um nível elementar de garantia de subsistência saudável. Tanto mais que todos conhecemos notícias sobre suicidas ricos e muito ricos. 
Cleópatra por picada de cobra, Séneca que cortou os pulsos ou Virginia Woolf, que se afogou, são apenas três exemplos de que, riqueza, tanto em sentido económico como de criação ou vivência criativa, não é condição necessária e suficiente de felicidade. 
Uma pessoa feliz não se suicida porque se encontra na corrente natural que a sua orientação existencial determina e, portanto, encontra-se no sentido da vida, deseja viver e continuar a viver porque  não encontrou o absurdo na vida ou o sentido de tudo na morte. O sentido da vida é, provavelmente, o mínimo denominador comum das condições de felicidade. Só deseja viver quem tem algum propósito na vida. 
Talvez a maioria dos seres humanos seja feliz: a felicidade está para além do prazer e da dor e pode existir na convivência, pela partilha de sentimentos agradáveis e desagradáveis, como a alegria e a tristeza. Cada um  é o intérprete perfeito da sua música existencial que ecoa na sinfonia da vida. Ser feliz também pode ser viver de acordo com os princípios que contribuem para a felicidade dos outros.
Um dia perguntaram ao Nobel da literatura, José Saramago, se se considerava um homem feliz, ao que respondeu: sou feliz, mas o mundo não. Por aqui se vê que a felicidade individual não é incompatível com a infelicidade dos outros, embora não a determine necessariamente. A felicidade é mais do que luta pela sobrevivência, é a vivência do presente de uma forma pregnante: não querer ser o que não se é, não querer estar onde não se está, não desejar o impossível, viver intensamente o momento presente como se fosse o último, já que o passado é memória e o futuro ainda é só imaginação. 
Os gregos antigos chamavam à felicidade, ataraxia (Ἀταραξία), Demócrito (640 aC - 370 aC), por exemplo, definiu a felicidade como prazer, bem-estar, harmonia, simetria e ataraxia, fundamentalmente o que designamos hoje por consciência tranquila e que, às vezes, também serve de justificação para os atos humanos, mesmo os mais polémicos ou discutíveis. 
Não posso deixar de invocar neste dia o nosso grande e saudoso Raul Solnado (1929-2009) e a sua sensata alegria quando nos lembrava sempre: "façam  favor de serem felizes". Lembro-me disto e, muitas vezes ao terminar as minhas aulas, também digo aos meus alunos, que não sabem quem foi Raul Solnado, façam o favor de serem felizes. Podem sair da aula a sorrir, afinal já sabem que ninguém é feliz sozinho.