O conhecimento por
contacto consiste na nossa relação
direta com a realidade e na representação
mental que daí deriva. Posso afirmar que conheço Paris porque já vi, ouvi e
toquei diretamente diversas partes dessa cidade e consequentemente tenho em mim
um sistema razoavelmente organizado de imagens na minha memória de longo prazo
sobre a complexa ideia de Paris. Em qualquer momento da vida em que me seja dada
a possibilidade de evocar a cidade de Paris, o meu conhecimento por contacto
permite-me dizer: conheço Paris. Mas, pelo facto de ter em mim uma série de
imagens mentais de Paris posso asseverar que conheço efetivamente esta cidade?
O conhecimento
do tipo saber-fazer ou saber como é uma competência ou um
conjunto de habilidades pelas quais concretizamos um conjunto de movimentos
observáveis, como por exemplo, saber andar de bicicleta, saber nadar ou saber
tocar um instrumento musical. Este tipo de conhecimento só existe ma medida em
que se mostra ou concretiza pela atividade física, é um conhecimento de
natureza prática, revela-se através de movimentos ou habilidades de um qualquer
sujeito e pode ser registado objetivamente. Mas será que nos conhecemos a nós próprios
e aos instrumentos musicais só porque sabemos como usá-los? Este tipo de
conhecimento adquire-se com exercício ou treino e mostra-se pelos movimentos
corporais que conseguimos executar e certifica-se pelo feedback que conseguimos
evidenciar quando nos perguntam se sabemos qualquer coisa: por exemplo, saber
escutar.
O conhecimento
do tipo saber-que ou proposicional
é aquele que é expresso sob a forma de enunciados declarativos com valor de
verdade. Este tipo de conhecimento é aquele que interessa fundamentalmente à
filosofia e às ciências apesar de não ser exclusivo delas. O senso comum ou conhecimento
vulgar apresenta-se também através de proposições, pode ser portanto, um
conhecimento proposicional.
O conhecimento
proposicional distingue-se claramente do conhecimento por contacto e do conhecimento
como saber-fazer. Todos os tipos de conhecimento apresentados são necessários e
até certo ponto interdependentes. Não poderei formular uma proposição de
natureza empírica sobre um determinado fenómeno se não tiver partido de um
conhecimento por contacto e este, por sua vez necessita do saber-fazer.
Será que só o
conhecimento do tipo saber-que ou proposicional poderá
contribuir para melhorar o mundo? A resposta a esta questão depende claramente
do que entendermos por melhorar o mundo. Se adotarmos um ponto de vista platónico,
isto significaria que um mundo melhor seria o mundo mais próximo do real/ideal,
do verdadeiro
mundo onde as formas perfeitas de justiça, beleza e bem dominam. Tal mundo só é
detetável pelo pensamento e no pensamento. Todo o pensar filosófico se
preocupa com a verdade de um modo ou de outro e se exprime através de juízos manifestados proposicionalmente, desta forma, sem conhecimento de
tipo proposicional não seria possível melhorar o mundo, já que não teríamos um
modelo ou um referente que nos permitisse efetuar alterações (melhorias). O próprio
conhecimento do tipo saber-fazer está dependente do saber
proposicional através do qual é possível reconhecer ou atribuir significado ou
sentido àquilo que se faz.
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