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segunda-feira, 7 de setembro de 2015

sentir



não sei dizer ao certo o que sinto
mas posso pincelar a folha branca
de pequenos movimentos circulares
de abelha sobre os frutos serôdios do verão
do pendular incessante dos ramos finos
das árvores que me interessam, as mais próximas
as pequenas agitações das folhas verdes claras
verdes escuras sob um ramo seco cuja extremidade
suporta animadamente uma libelinha quase transparente
equilibrando-se à luz do sol reluzindo suas asas de cristal
baloiçando ou parando qual estátua viva admirável
como se à sua volta nada existisse ou apenas a realidade
fosse o seu pensamento autorreflexivo
talvez só sonho este estar acordado com a pontaria da atenção
o mais afinada possível
ao olhar devagar para a paisagem eis que não vislumbro
nem abelha nem libelinha, 
abalaram do meu pensamento
ou fugiram da realidade em direção ao nada que eu próprio desconheço?