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sexta-feira, 21 de outubro de 2016

pássaros

Entro em casa:  ninguém.
Atravesso a sala em câmara lenta,
abro a porta de correr do quintal,
olho as plantas verdes, conheço-as
mesmo sem  saber o nome de todas.
Catos, dálias, amores de mãe,
brincos de princesa, aloé vera,
roseira, alecrim, salsa, hortelã…
Absoluto silêncio, fraca luz
e a saudade voltou.
Ontem vi claramente vista uma osga,
tão linda, percorrendo com ternura
o pé da laranjeira que, por ora,
só tem laranjas verdes e pequenas.
Regresso à sala grande, procuro
música ao acaso.
Tiago Bettencourt com a canção
de engate do Variações.
Escuto até ao fim, levanto-me,
espreguiço pernas e braços
estendo a alma como um lençol
e vejo uma borboleta,
como Psychê, nora de Afrodite contra sua vontade.
Atravessei a porta de correr
e dei de ouvidos com os pássaros
que, por vezes, me  lembram a caça aos pardais
na China de Mao, será mito?
Gosto de os escutar, 
é tão bom sentir o carrocel da vida 
em bebedeiras musicais. 


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