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quarta-feira, 8 de julho de 2015

palavras

Feitas de pedra as palavras escondem-se umas sob as outras. Como as pegadas de dinossauros nas entranhas dos montes há milhões de anos. Camadas de sílabas jurássicas. Túmulos de heróis, gritos de guerra e frenesim de bacanais. Palavras alinhadas nas cidades cartesianas, retorcidas e lânguidas, entaladas no sufoco dos interstícios da memória em aldeias surrealistas. As palavras pastam como as vacas no prado, como os esquilos em S. James Park. Calmas como as águas do lago Baikal onde cabem todos os rios. Doces, mar salgado dos teus olhos e salinas de inefável brilho, rede cristalina de cloreto de sódio ao sol. As palavras quezilentas e assustadoras, de carne feitas, sangram ao som das sirenes que anunciam o holocausto, alegres sorriem quando ouvem a banda passar e adivinham as borboletas brancas pintando Mirós bailando no azul do céu. A cada passo inserimos o peso da memória e a leveza do esquecimento nos trilhos já percorridos e misturamo-nos com eles, palavras engatadas pelos gatos das moléculas multiformes, formamos inevitavelmente uma fraternidade. Sugamos o mesmo solo com as raízes ávidas de sustentar o tronco que sustém os rebentos e as flores, ninhos de crisálidas. Entrelaçados continuaremos enquanto houver pergaminhos para desdobrar o espanto de parir o gosto do amor e a beleza da amizade.

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