Páginas

quarta-feira, 8 de julho de 2015

a mula de tales

Humanos demasiado humanos,
animais demasiado animais.
Somos do tempo e da vida,
e além da morte nada sabemos.
O espaço sideral, o firmamento,
o planeta onde nos sentamos,
as origens, princípios e fins;
nada disto nos pertence. 
Nosso só o instante do eco musical 
da palavra cristalina e resplandecente
quando escutada com precisão.
Nossa, só a lassidão por evolar,
e a feliz coincidência do amor.
A vida é uma sucessão de causas e efeitos,
de coincidências espantosas.
Da inspiração e do movimento dos corpos,
da luz repentina que invade os olhos,
e vai ao neurónio  ótico,
fazendo surgir o mundo transcendental - 
a consciência -  jogo de luz e sombras
que nos transporta do peso para a leveza e
faz a nossa ambição igualar o desejo.
Mas, mesmo assim, 
dificilmente ultrapassamos a escala ontológica
da fascinante mula de Tales
que passou a transportar lã em vez de sal.


Post Scriptum:
Para Tales de Mileto, filósofo pré-socrático, (624 a. C - 546 a. c.)  a água é a origem e a matriz de todas as coisas.

Atribui-se a Tales de Mileto a história de uma mula que, quando carregava sal, entrava no rio e baixava-se para dissolver o sal e diminuir o peso da sua carga. Tales, para tirar esse mau costume do animal, carregou-o com lã.

Sem comentários:

Enviar um comentário