animais demasiado animais.
Somos do tempo e da vida,
e além da morte nada sabemos.
O espaço sideral, o firmamento,
o planeta onde nos sentamos,
as origens, princípios e fins;
nada disto nos pertence.
Nosso só o instante do eco musical
da palavra cristalina e resplandecente
quando escutada com precisão.
Nossa, só a lassidão por evolar,
e a feliz coincidência do amor.
A vida é uma sucessão de causas e efeitos,
de coincidências espantosas.
Da inspiração e do movimento dos corpos,
da luz repentina que invade os olhos,
e vai ao neurónio ótico,
fazendo surgir o mundo transcendental -
a consciência - jogo de luz e sombras
que nos transporta do peso para a leveza e
faz a nossa ambição igualar o desejo.
Mas, mesmo assim,
dificilmente ultrapassamos a escala ontológica
da fascinante mula de Tales
que passou a transportar lã em vez de sal.
Post Scriptum:
Para Tales de Mileto, filósofo pré-socrático, (624 a. C - 546 a. c.) a água é a origem e a matriz de todas as coisas.
Atribui-se a Tales de Mileto a história de uma mula que, quando carregava sal, entrava no rio e baixava-se para dissolver o sal e diminuir o peso da sua carga. Tales, para tirar esse mau costume do animal, carregou-o com lã.
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