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quarta-feira, 8 de julho de 2015

O fundamento não existe

As distantes galáxias,
a via láctea e suas miríades de astros,
o sol que nos ilumina e os planetas mais próximos,
a sequoia de Serralves e as oliveiras do Alentejo,
a lagoa de Óbidos e as serranias do nordeste,
os peixinhos vermelhos nos aquários,
as cidades fervilhadas pelo stresse,
as rosas vermelhas de cetim e perfume de amor,
o Nilo a esconder as lágrimas no Assuão,
as múmias do museu britânico roubadas ao Egipto,
o friso do Pártenon subtraído à acrópole de Atenas,
o mar adentro dos teus olhos,
os filhos desejados, os jogos de toda a sorte,
as viagens imaginadas aos confins do mundo,
as filosofias, as religiões, todas as artes,
D. Quixote, Rocinante, Sancho Pança, Dulcineia,
a ilha dos amores e os deuses,
o cântico dos cânticos,
as montanhas russas virtuais,
a quinta sinfonia em dó menor opus sessenta e sete.
Tudo imerso numa onda infinita,
tudo remexe ou repousa, tudo cai ou se eleva,
tudo vagueia sem saber porquê ou para quê.
Tudo procede do nada
e incessantemente se desdobra 
nos mais incríveis adejos
em busca do princípio da razão suficiente
na zona da essência do fundamento
que não existe!

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