No tempo de mil mágoas
abril traz-nos da vida o sentido,
como se fôssemos prímulas, tulipas,
margaridas-do-monte.
Aprillis abre a porta da alma:
as mentiras do primeiro dia - plaisanteries -
tão necessárias como as verdades,
refrescam-nos o coração.
As vaidades, os sonhos esquecidos,
as insónias que apertam a existência,
a decrepitude do corpo, os achaques da imaginação;
dão lugar ao nascimento de pétalas frescas
cuja queda mostra os frutos ainda tão pequeninos,
promessas grandes por cumprir.
Abril é isto, janelas limpas e transparentes,
portas a abrir devagarinho como se fossem
vozes a passar de boca em boca, baixinho, como os segredos,
como as águas da consciência, lúcidas e inebriantes.
Abril é um tempo que cabe numa palavra: desconfinar,
ainda que só em pensamento, sem desconfiar,
ainda que só em pensamento, sem desconfiar,
porque a fruta oferecida pelo inverno deu-nos força suficiente
para abraçarmos a primavera
para abraçarmos a primavera
que veio ao nosso encontro e nos quer vivos.
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