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domingo, 18 de dezembro de 2011

teoria da câmara fotográfica

Há um ditado chinês que diz, vale mais uma imagem do que mil palavras.  Devemos muito à China, não apenas a necessidade de nos aperfeiçoarmos devido à crise económica mas também o papel, ao  que parece terá lá sido inventado. Devemos-lhe também o sofrimento provocado pela síndrome da teoria da câmara fotográfica. É um pouco como S. Tomé  quando duvida da ressurreição de Jesus e exige que necessita de sentir as suas chagas antes de se convencer, é  portanto, ver para crer. E se colocássemos a questão ao contrário: valem mais mil palavras do que uma imagem?


A teoria da câmara fotográfica baseia-se na ideia de que o mundo real é semelhante às nossas percepções. Esta crença é uma suposição inconsciente e pode chamar-se de realismo ingénuo. As percepções não são registos fiéis da realidade, são interpretações dos dados dos sentidos e encontram-se contextualizadas pela vivência dos sujeitos. Para percebermos o mundo não basta termos uma imagem panorâmica do mesmo, é necessário ir contra as evidências da aparência. Muito do que nos permite uma explicação da realidade está muito para além das informações que nos dão os sentidos apesar de serem indispensáveis, já que a mente não é solipsista. 


As motivações, as experiências, os interesses, as aprendizagens e a personalidade do indivíduo condicionam as percepções, condicionam a mente. Todos esses elementos são interligados pela razão: conceitos, leis, teorias, modelos explicativos. A mente, com a razão, elabora conhecimento que não é limitado ao registo da imagem do mundo, cria um mundo correlato com mil palavras para responder às necessidades do sujeito.


A realidade é ficção. O nosso conhecimento é verdadeiro e chega apenas onde lhe permitem as nossas faculdades. É sustentado pelas percepções que não passam de construções mentais como as cores, os sabores, os sons, os odores  e as formas.
Conhecer é caminhar,  caminhar é ficcionar. Só a linha do tempo nos permite perceber quando é que a imaginação se cristaliza em realidade que entra no passado. O caminho já percorrido não é mais verdadeiro que o caminho que falta caminhar: eles formam uma unidade indissociável, não há passado sem futuro.



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