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sexta-feira, 15 de setembro de 2017

NOITE AZUL

Vi claramente, numa noite azul,
um espetáculo digno de nota:
numa parede branca como a cal,
uma senhora aranha toda ciosa,
talvez esfomeada, tecendo a teia.

Esvoaçava sozinha  uma borboleta notívaga,
alegremente ao som da aragem, sob a luz
da lua a ofuscar o titilar dos pirilampos;
voltejava num vórtice hilariante sem fim
como o parafuso de Arquimedes, o físico.

Escondeu-se o aracnídeo no vão da alvenaria,
enquanto a mariposa batia as asas ousando
desafiar o destino perante os olhos ocultos.
Voava e revoava embriagada na sua beleza
como se fosse a rainha do universo infinito.

Nenhuma das partes desistiu do seu fado:
ao afastar-se o lepidóptero, avança a aranha,
aperfeiçoando com destreza, em rápidos movimentos,
as malhas da sua rede mais fina e mais forte,
com o escondido olhar esfíngico de caçadora.

Num voo mais ousado e temerário,
à procura da luz, fica presa a mariposa,
com as asas coladas na teia quase invisível.
Foi transformada num rolinho apetitoso,
enleada como uma múmia egípcia.

E assim termina a história da borboleta
que se julgava livre e dançava alegremente
à procura da luz numa bela noite azul.
Não conseguiu, por vaidade, fugir ao destino:
servir de repasto para uma aranha sagaz.





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