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sábado, 23 de setembro de 2017

As ideias verdes incolores dormem furiosamente

 Há um problema sempre atual que nos leva à questão do sentido ou do significado. O que é uma palavra e que relação é que tem com a coisa? As palavras podem ser ditas e por isso escritas, ao serem proferidas não são mais do que sons articulados. Qual é então a relação entre som e significado?

      Ferdinand de Saussure (1857-1913), no seu célebre curso de linguística geral revelara que o signo linguístico apresenta duas faces como se fosse uma moeda, o significante ou imagem acústica e o significado ou conceito. Nesta relação não há margem para qualquer determinismo, o signo enquanto significante é arbitrário. Não há determinação universal para a palavra na sua relação com a coisa. Por isso o mesmo objeto é designado por sons diferentes consoante a língua usada. Car, voiture, carro, coche, designam um e apenas um conceito, o de carro ou automóvel. Não há portanto nenhuma ligação natural entre os sons e o objeto que designam ou indicam.
      Contudo as palavras surgem organizadas quando são proferidas, essa ordem é sintática e pode variar de língua para língua. A forma ou sintaxe e o conteúdo ou semântica geram infinitas possibilidades de combinação de palavras o que permite infinitas frases. Mas não se pode analisar um discurso, sucessão de frases, prescindindo de nenhum dos dois campos, sintático e semântico. 
      Se o fizermos corremos o risco de encontrar sentido onde ele não existe o que é absurdo e paradoxal. Atente-se no célebre exemplo de Noam Chomsky dos anos 50 do século xx: "Colorless green ideas sleep furiously", traduzindo, "As ideias verdes incolores dormem furiosamente". Do ponto de vista sintático poderemos dizer que se trata de uma frase bem formada, o que já não acontece se tomarmos a frase na perspetiva semântica, isto é, do seu conteúdo material.

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