Por definição os
enigmas são difíceis de descobrir e dada a complexidade da filosofia e do seu
objeto, o todo, também o enigma do livre-arbítrio se afigura
de difícil resolução. Há duas perspetivas distintas em
relação ao livre arbítrio: por um lado conclui-se, através de argumentação
poderosa, a impossibilidade de uma “vontade livre” e por outro, também por meio
de argumentos poderosos, que existe uma “liberdade da vontade” que também
experimentamos na prática. Há uma solução para este
enigma, a de que a vontade livre e o determinismo são compatíveis entre si,
isto é, não são contraditórios.
Aparentemente
tudo o que existe e acontece no mundo é determinado por causas anteriores que
poderão eventualmente ser descobertas pelos cientistas e filósofos, se é que o
não foram já, pelo menos em parte. Contudo, nessas causas poderá estar uma que
é o próprio livre-arbítrio. As ações livres podem ser
determinadas desde que não sejam constrangidas, desde que não sejamos forçados
a praticá-las. Quando alguém faz alguma coisa sob constrangimento, uma doença
ou uma ameaça grave, por exemplo, não está a ser livre, e esta é a exceção à
“regra da liberdade”. Não podemos negar na prática os efeitos comportamentais
das nossas doenças ou medos porque não fomos nós que os escolhemos, e nessa
medida, somos determinados.
Mas não somos absolutamente determinados como se
fôssemos parte integrante do domínio do demónio de Laplace. Há um cantinho do mundo, onde a
compulsão e alguns tipos de ameaças, medos ou forças estão ausentes, por isso
há espaço para a vontade livre e o determinismo conviverem sem contradição,
conclui-se assim o compatibilismo. Esta doutrina será provavelmente a maneira
mais habitual de resolver o problema da contradição entre o determinismo e o
livre-arbítrio: um determinismo moderado não radical que aceita e legitima as
leis do universo em simultâneo com a liberdade humana.
Sem comentários:
Enviar um comentário