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sábado, 23 de novembro de 2013

arte

Na antiguidade grega no tempo do famoso Péricles (495 a C - 429 a C) houve um influente filósofo, Anaxágoras (499 a C - 428 a C), que defendia que tudo está em tudo. Uma das principais convicções deste filósofo era a de que o universo é gerido por um princípio ou inteligência que determina e permite todas as transformações que ocorrem. É por isso que os seres humanos andam sempre à procura de qualquer coisa que se esconde e que deriva dessa inteligência: as leis da natureza. Era convicção sua também a de que o universo seria inicialmente uma mistura de sementes diferentes e que posteriormente se transformou dando origem a espaços e objetos diferenciados.

A ideia de  que tudo está relacionado com tudo, é no século XXI, geralmente aceite na comunidade científica e filosófica, daí a importância de compreender a génese de tudo isso e analisar de novo os fragmentos deste filósofo pré-socrático. A biologia molecular, a química orgânica e a mecânica quântica não contradizem Anaxágoras. Contudo pensamos que se pode estender esta ideia de que tudo está em tudo ao domínio das artes. 

Em primeiro lugar teremos de estabelecer critérios, tanto quanto possível, universais, para que não restem dúvidas sobre se um determinado objeto é ou não uma forma de arte:

a arte é criação original pela técnica e produz sempre, enquanto tal, efeitos estéticos significativos, toca nos sentimentos e produz emoções, engendra a reflexão que leva à reprodução da vida enquanto processo criativo pregnante. O objeto de arte é sempre único e original,  não é cópia de coisa alguma. A arte conjuga, na perceção que dela temos, os nossos sentidos. Poderemos falar das artes visuais, olfativas, táteis, acústicas e do gosto ou paladar. Não existem formas puras de arte, todas elas são em maior ou menor grau uma combinação de umas com as outras. A arte é sempre um produto humano que radica nos sentidos, no ser humano que é em si, uma unidade, um corpo com toda a complexidade bioquímica, física e psicológica de que sabemos ainda muito pouco. A arte é o fundamento da compreensão da vida e do mundo, o elo mais importante na cadeia relacional que garante à humanidade a abertura para as mudanças de comportamento individual e social. Sem arte não há cultura nem tecido social minimamente organizado. A arte é condição necessária da ética: é pela arte que se criam os valores e ao mesmo tempo se processa a transmutação dos mesmos. A arte garante a continuidade e a abertura suficiente para a alegria que se expressa também no riso. A arte choca, martela, quebra, estilhaça, desconstrói, reconstrói, vivifica. Pela arte entra-se no mais pregnante processo de valorização da vida. Arte e vida podem, por isso, identificar-se em muitos momentos da existência de qualquer ser humano. A vida de uma pessoa pode ser uma obra de arte: enquanto criação , fruição intensa ou mera contemplação. A hermenêutica da arte pode ser arte, na medida em que toda e qualquer interpretação pressupõe convivência, partilha do objeto artístico, criação literária, um novo objeto artístico. Por isso toda a arte apresenta em si esse potencial de se reproduzir até ao infinito. A arte reproduz-se como a vida. O objeto de arte é sempre arte da arte ou se quisermos meta-arte.

Atualmente fala-se nas artes seguintes: 
primeira - música; segunda - dança e coreografia; terceira - pintura, quarta - escultura/arquitetura; quinta - teatro; sexta - literatura; sétima - cinema; oitava - fotografia; nona - banda desenhada; décima - digital; décima primeira - culinária. Contudo não há consenso absoluto sobre a sua numeração ou catalogação. É evidente que os suportes artísticos são variadíssimos e não param de se diversificar com a proliferação de novos materiais e de novas tecnologias.

A estética é a área da filosofia que estuda a sensibilidade do ponto de vista da compreensão  do sentido do que é ou não arte, qual a sua origem, processo, significado e finalidade. Avalia o sentido do ser dos seres humanos e a relação existencial entre eles, na medida em que é sempre uma relação de sensibilidade. Avalia também a relação da arte com o que não é arte e não deixa de ser criação humana: religião, ciência, ontologia, ideologia, política, lógica, ética. A estética permite-nos compreender o que é o belo, o sublime, o feio, a verdade. Por isso analisa ao pormenor as obras de arte depois de lhes ter reconhecido o ser.

Em conclusão podemos exemplificar a arte como arte combinada através de um poema de Vinicius de Moraes que foi musicado e desenhado como se pode ver e ouvir:









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