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quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

vénias




todos os dias faço uma, duas e três vénias
à minha laranjeira que é muito rica,
é evidente que é por respeito
pela natureza - justificação metafísica.

descobri na laranjeira, para além dos frutos cor de laranja,
uma teia lindíssima, tão espetacular que até me assustei,
ostentava gotículas de água cintilantes, 
nas sua linhas geométricas equidistantes do centro.

chamei os meus filhos para apreciarem tal obra de arte
creio que se extasiaram, tal como eu,
mas não deixaram de perguntar onde se encontrava a aranha,

respondi que dormia, escondida num recanto de um ramo,
à espera que o sol secasse a teia para depois tomar
o pequeno almoço, inseto apanhado na armadilha, 
por deslumbramento ou falta de cautela.

fomo-nos embora e lá deixámos a obra de arte.

hoje cedinho, enquanto fumava um cigarro
quis extasiar-me novamente e olhei para o mesmo lugar
através da branda luz refletida pelas trémulas folhas verde-laranjeira

e não encontrei teia nenhuma, procurei, procurei e
para me deleitar com a obra de arte
tive que fazer uma introspeção e encontrar na consciência
os vestígios de tão belo objeto - beleza metafísica.

fehei os olhos e deliciei-me
com a beleza que está dentro de mim 
e que eu não criei.

o cigarro acabou e ao deslocar-me  para a sala de estar
fiz de novo uma e outra vénia à minha laranjeira
e perguntei-me, porquê estes gestos exatos e ritualizados?

cheguei a uma extraordinária conclusão:

não gosto de dar cabeçadas nas laranjas!

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