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terça-feira, 30 de dezembro de 2025

FELIZ 2026

Faço votos de um Ano Novo
que seja digno deste nome.
Creio que podemos fazer 
por o merecer,
embora não seja fácil.
Se seguirmos a vontade de tentar,
experimentar e pelejar, 
sem desistir até conseguir, 
encontrá-lo-emos.
Ele está adormecido
dentro de nós, mas irá, com certeza,  
acordar com o nosso despertar 
para as coisas boas da vida:
amor, saúde e paz, 
e aí não nos faltará a boa sorte.

©PR

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

NATAL 2025

Há na nossa cultura um acontecimento de primordial importância registado na Bíblia, no Novo Testamento, nomeadamente no Evangelho segundo Lucas, que é o nascimento de Jesus na manjedoura de Belém, há mais de dois mil anos. Uma mulher, de nome Maria, deu à luz o seu filho primogénito e envolveu-o em panos e deitou-o numa manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria. Uma situação de pobreza com gente humilde, uma história simples, a realização de uma profecia, segundo Mateus e  Lucas. Crentes e não crentes não podem ignorar este relato que parece não ter um rigor histórico. Ninguém sabe ao certo nem a data nem o local onde se deu este nascimento. Mas para além de todas as vicissitudes, quase toda a gente, na cultura portuguesa, deseja a toda a gente um Feliz Natal. Tempo simbolizado num bebé acabado de nascer, a oportunidade de cada um renascer e se reanimar e tentar perceber qual o sentido do que anda a fazer neste mundo. Por isso há quem diga que o Natal é das crianças porque são inocentes, por elas não há fome, não há guerra, não há medo, só há vida intensamente vivida, só há espanto para aprendizagem e tudo parece natural. O Natal pode significar a redescoberta da criança que há em cada um de nós e um ímpeto para reflexão que nos leva ao respeito pelo outro e à vida de partilha em comunidade criando paz e alegria.

A todos, Votos de um Feliz Natal
Boas Festas


terça-feira, 16 de dezembro de 2025

LIBERDADE II

A liberdade é o bom uso do livre-arbítrio,
por isso é a prática intencional do bem.
O livre-arbítrio é a possibilidade de escolher,
é um fundamento da liberdade,
tem origem no significado das coisas
e pode ser expressão da boa vontade.
A liberdade é a razão prática em ação,
o respeito absoluto pelo outro.
O livre-arbítrio nem sempre é de todos,
há quem não possa escolher,
devido a limitações involuntárias.
Todos podem ter tendência para a liberdade,
mas nem todos são livres porque alguns
têm da liberdade apenas uma ilusão.
Há quem acredite na mentira que diz:
"a minha liberdade acaba onde começa a tua".
A verdade é o contrário disso:
quanto mais liberdade eu tenho
mais liberdade tens tu também.
A minha liberdade acaba quando
acaba a tua liberdade e a tua termina
quando a minha se acaba.
Só há liberdade a sério quando todos
formos efetivamente livres,
quando todos nos respeitarmos
absolutamente uns aos outros,
a possibilidade disso depende de nós.
Mas para além de outras razões
a liberdade é como o amor,
cresce à medida que se reparte.
©PR
 


sábado, 6 de dezembro de 2025

Quando o mundo está cheio de ruído


Visitei a exposição no espaço.arte de Campo Maior, "When the world is full of noise, traduzindo, "Quando o mundo está cheio de ruído", com curadoria de Orlando Franco. Esta exposição é um convite ao pensamento sobre o tema - o ruído.
Há no mundo demasiado ruído, aliás, uma grave carência do século XXI é a dificuldade de tempo e de espaço para o exercício calmo e sereno do pensamento, para a fruição da arte, para o silêncio criador.
No silêncio, por oposição ao ruído, podemos obter o que necessitamos para encontrar o sentido de tudo, de nós e dos nossos semelhantes, do princípio e do fim do universo.
A melhor alternativa ao ruído em excesso e à saturação é a fruição da arte, neste caso a arte do desenho, da pintura e da escultura, que ocorre no silêncio, faz emergir a nossa energia vital e pode conduzir-nos à poesia e à música, combinações de sons e de silêncios numa sequência organizada no horizonte temporal. 

domingo, 2 de novembro de 2025

Palavras

As palavras andam por aí,
às vezes caçamos algumas
mas nem por isso são nossa propriedade.
Quem as inventou permitiu-nos
que as pedíssemos emprestadas
sem pagar juros, com a condição
de as partilharmos, ouvindo, falando,
lendo, escrevendo, publicando.
Mas, tal como na natureza,
nas palavras não há maldade
nem bondade, nem beleza nem fealdade.
Se parecem belas é porque nos aprazem,
se denotam crueldade é porque nos fazem sofrer.
As palavras dialogadas
são talvez as mais sublimes,
com elas se reconhece a igualdade,
a liberdade e a fraternidade.
Com elas se fabricam as perguntas
da constante mudança investigativa:
desentendimentos, concordâncias,
espinhos, flores, cores e amores.
Fossem as guerras
só polémicas e jogos de palavras,
teríamos um mundo mais a sério,
com muito bem e pouco mal,
sem imperadores, dinâmico,
infinito, inacabado, maduro,
partilhado, um mundo com futuro.




 

domingo, 31 de agosto de 2025

Casa

Sabemos que habitamos
a nossa única casa,
nela estamos presos à vida
cativos uns dos outros.
Não nos afastemos,
vamos de mãos dadas,
sempre unidos.
A realidade está connosco,
nela alcançaremos
horizontes de futuro.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

DIFERENÇA

Cada um é, de certo modo,
toda a gente, e toda a gente é,
de alguma maneira, cada um.
Afinal somos humanos
porque vivemos
com outros humanos.
Mas também há algo
absolutamente singular em cada "eu",
uma marca de diferença individual.
Onde a podemos encontrar?
Talvez nos limites do corpo,
na aura individual, na emanação
singular fluídica da vida
ou na sensação única de um gesto.

terça-feira, 29 de julho de 2025

A Árvore do Paraíso

A árvore do paraíso é tão verde,
mais bela do que a Gioconda.
A flor da árvore do paraíso
é alva como a neve mais branca.
A árvore do paraíso é completa,
basta-se a si própria como o universo,
é bailarina como a invisível aragem
que acaricia as suas pétalas.
A árvore do paraíso é como o amor,
por isso a rego, protejo, cheiro,
afago, olho, cuido e alimento.
É um pedacinho de mundo
onde olhamos um para o outro
e voamos com as asas da liberdade.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

VERDADE

Pode procurar-se a verdade
para  se saber onde começa e acaba 
o eu e o outro, e assim, determinar,
com a precisão de um nanomundo,
os limites do livre-arbítrio,
fundamento da liberdade.
A verdade pode surgir como
pedra filosofal, altar dos deuses, 
oráculo, clareira da floresta,
conversa de amigo
ou cantiga de amor.
Ou até, como no dia de hoje,
numa epifania inusitada,
em que é dado a quem quiser e puder,
o verde de árvores 
que dão pássaros que fruem
as sombras e a vida 
que nelas se oculta.
Assim, cativos da natureza, 
obrigados a sentir os pés 
num chão que  transmite 
a manhã fresca da orvalhada,
ligamo-nos à terra
e a verdade vai-se revelando
passo a passo, 
num caminho incessante.
Por isso conseguimos 
alimentar as bússolas,
as próprias e as de quem passeia 
connosco no nosso coração 
e no nosso espírito, 
a toda a hora do dia.

domingo, 4 de maio de 2025

Dia da Mãe


"Deus não pode estar em todo o lado e por isso criou as mães".
- Ditado judaico


Hoje é o dia da mãe mas também o dia das mães. Ninguém conhece todas as mães do mundo, apenas algumas. Há quem não conheceu a sua, há quem a tenha conhecido e  já a não tem, e há quem a tem e não seja reconhecido por ela por motivo de doença grave e há quem tem a felicidade de a ter com saúde. Mas seja mãe viva ou mãe apenas na memória, mãe há só uma, parece consensual, no entanto  há quem tenha de facto mais do que uma mãe. Há tias e amigas que são autênticas mães de filhos que não geraram. Mãe é quem gerou o/a filho/a no ventre, mas não apenas, é também quem ama incondicionalmente, quem cuida e educa, quem não dorme quando o/a filho/a está aflito/a, quem visita o/a filho/a na prisão se ele/a for preso/a,  independentemente da acusação,  é quem move montanhas para lhe salvar a vida, quem arrisca tudo. A Mãe dá a vida pelos filhos e sente as dores que lhes vão no corpo e na alma. Mãe a quem morreu um filho/a não tem nome, ou se tem, é mãe das dores, das dores excruciantes que mais ninguém sente, apenas ela e mais ninguém. As mães são a causa das nossas vidas, a razão do presente e a melhor expetativa do nosso caminho neste mundo. São a causa material, formal, eficiente e final da existência da humanidade, são a potência  do futuro, são, também por isso, merecedoras de todo o carinho, de toda a alegria e de toda a felicidade possível.

Viva o dia da mãe, vivam as mães!
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Foto: escultura no átrio do Hospital de Santa Luzia






quarta-feira, 5 de março de 2025

País de Abril

O país de Abril

é a afirmação da vida

onde toda a gente luta

por bom tempo e melhores auspícios.

Este país encerra a memória

de mulheres e homens 

outrora exauridos

pela incomensurável reivindicação,

infinitos instantes de liberdade.

Este país treme de ternura 

como poetas a aprender

no mar imenso, 

nas longas praias,

nos cálidos campos,

nas desafiantes montanhas,

nas florestas de verde vivo.

Este país cresce 

como as crianças,

quais rios livres

que correm pacíficos

sem se deixar oprimir.

O País de Abril 

é a pátria de manhãs 

serenas e límpidas,

de tardes frescas,

de noites escaldantes 

de mãos encontradas,

de flores partilhadas,

de trabalho alegre, de lutas mil,

um país belo e inteiro

como no Sonho de Abril.

©PR


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Política

POLÍTICA Encontro de vez em quando pessoas que acham que não têm nada a ver com a política. Algumas não deixam de manifestar a sua opinião, pelo menos intramuros, sobre o que está mal por esse mundo fora. Outras simplesmente dizem, eu não sou político, a política não é para mim, não quero nada dessa gente, são todos iguais. A palavra "política" originada do grego "politikḗ" (πολιτική), significa arte ou ciência de governar a pólis, deriva de "pólis" (πόλις), que significa "cidade", e do adjetivo "politikós" (πολιτικός), relativo à cidade ou aos cidadãos. A política originou a democracia, que vem do grego, "dēmokratía" (δημοκρατία), formada por duas partes: "dêmos" (δῆμος) "povo"; "krátos" (κράτος) "poder" ou "governo". A democracia é o governo do povo pelo povo e para o povo. O sonho da democracia nasceu da política grega antiga, há mais de dois milénios e meio. Toda a gente é, por natureza, animal político e ao negar a política, nega-se a si próprio, autoexclui-se da sua condição cidadã, reduz-se à situação de escravo. Quem assim procede não está disponível para cuidar de si e do outro numa relação tão necessária quanto bela. A ideia de que a política é só para alguns é falsa. Mesmo assim, tem feito um longo caminho, talvez por isso o mundo apresente ainda tanto mal, tanta guerra, tanta infelicidade. Por isso há que reabilitar a política, fazê-la renascer todos os dias. A (boa) política é trabalhar, estudar, semear, servir, pintar, esculpir, musicar, dançar, sorrir, cuidar. É fazer trocas recíprocas, vivermos juntos com a alegria que resulta da imprescindível autonomia individual e coletiva, com ética e em comunidade, respirando liberdade. PR

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    Soldado a atirar flores - Banksy











sábado, 8 de fevereiro de 2025

LIBERDADE


Não compreendo
como há pessoas
que prendem pássaros,
ainda por cima,
em gaiolas.
Se eu fosse pássaro
não gostava nada
de ser preso numa gaiola,
nem que fosse dourada.
Há uma laranjeira no quintal
da casa onde moro
que dá pássaros que dão música,
e também dá laranjas
no inverno e na primavera.
O canto dos pássaros é uma sinfonia
que me acorda do sono dogmático
em que, por vezes, quase me afogo.
Soltem os prisioneiros pássaros
e não aprisionem mais nenhum,
eles vão aprender e ensinar-nos
a liberdade e o sentido da vida.
Com eles abraçaremos as nuvens
e os ventos por esse tempo afora.
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PR



domingo, 26 de janeiro de 2025

Palavras boas

As palavras boas  

são pontos de referência

no mapa do mundo.

Só estas palavras falam, 

só elas escrevem,

só elas são ouvidas, 

só elas são lidas.

Sem palavras boas 

não há fundamento,

nem argumento ontológico,

nem nome para o firmamento.

Nascem, crescem,

multiplicam-se 

e perduram

pela eternidade.

São luz e água,

flor e árvore, 

raiz e nuvem, 

luta, conquista e alegria.

Com elas viajamos, 

sonhamos e construímos

casas para morar, 

barcos e velas a navegar.

Com palavras boas 

somos cristais

brilhando e retinindo

melodias de (en)cantar.

Somos, por elas, 

o prazer de viver

e o elo mais forte 

da fraternidade.

Com palavras assim

o amor é possível

porque o fim principal 

da humanidade

é tão só a felicidade.