Como nos sonhos, passo o tempo a inventar porquês.
Indiferentes, os eletrões, o sol, a via láctea,
continuarão por aí, sem consciência, julgo eu,
indiferentes à vida, à morte e ao sentido de tudo isto.
E se o sentido da vida for ela não ter sentido nenhum?
O universo, como a vida, é mortal e finito,
mas a invenção de porquês continua.
Nenhuma resposta existe fora de nós.
Na aflição da consciência, ora leve ora pesada,
descobrimos o valor, o significado e o propósito,
pouco mais do que teatros, comédias e tragédias.
Mas o mundo continua a vibrar, como cordas de alaúde,
e nós, ao vibrarmos com ele, sentimos a impressão
da liberdade, como Fernão Capelo Gaivota, voando
ou Fernão Mendes Pinto, peregrinando.
Liberdade sem livre-arbítrio,
ser e não ser, ao contrário de Hamlet.
Ai que bom sentir a manhã de água fresca,
realidade e ilusão verdadeira e boa.
Submergido como uma tremelga,
vou descarregando choques elétricos nos outros
e recebo os ricochetes na justa medida,
não há dar sem receber, principalmente
quando se oferece o desassossego.
Às vezes, irritado, anseio por um mundo
onde seja natural até, amar uma pedra.
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