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terça-feira, 11 de abril de 2017

A escola e a educação

Segundo a etimologia, educar, significa “conduzir para fora” ou "direcionar para fora”. O termo latino, educare, é composto pela união do prefixo ex, que significa “fora”, e ducere, que quer dizer “conduzir ou “levar”. O significado do termo (direcionar para fora) era empregado no sentido de preparar as pessoas para o mundo e viver em sociedade, ou seja, conduzi-las para “fora” de si mesmas, mostrando as diferenças que existem no mundo. 
   Fonte: http://www.dicionarioetimologico.com.br/educar 

 O tema "educação" é tão velho como a humanidade e é problemático porque há profissionais da educação. Querem bons salários, dignidade, carreira, reconhecimento. Justamente, tal como quaisquer outros profissionais de outras áreas. Profissionais são aqueles que auferem uma remuneração pelo exercício das suas atividades. Como há sempre dinheiro envolvido na “educação”, porque há profissionais, mantém-se a polémica do valor pecuniário dessa atividade. É uma questão que não se resolverá definitivamente dado que estão em jogo interesses contraditórios: os de quem paga e os de quem recebe. A solução possível assemelha-se a uma negociação permanente. 

     As palavras professor e profissão estão intimamente ligadas: professor significa, desde longa data, aquele que apresenta novos assuntos. A novidade é condição sine qua non para se ser professor. Isto implica necessariamente formação permanente ou contínua. Mesmo que não seja formal ela é impreterível para a sobrevivência dos professores. Profissão é um termo que provém do latim professione, que, para além de significar “declaração”, também significa “ofício”. Na Roma antiga os profissionais estavam agrupados em associações e na Idade Média formavam associações religiosas e de segurança social às quais prestavam juramento.
     -Fonte:https://ciberduvidas.iscte-iul.pt/consultorio/perguntas/professor-e-profissao/20457 

     Os professores exercem quase sempre a sua profissão na escola. Esta não é um local de trabalho como tortura, é um espaço relacional onde as pessoas exercitam e treinam o corpo e a mente com vista a serem educadas. Professores, alunos, administrativos e assistentes operacionais, convivem num espaço comum onde deverá acontecer sistematicamente a educação de todos. A disponibilidade para ensinar e aprender é a essência da escola. A escola não é uma estrutura arquitetónica, não é um edifício, é um sistema multipolar de relações humanas de grande complexidade. Exige formação moral e fundamentação ética de todos. Espírito crítico, entreajuda, solidariedade e boa comunicação, são características da Escola (com E grande). Às vezes defende-se a escola como preparação para o futuro, o que não passa de um truísmo, todos os momentos de qualquer vida, dentro ou fora da escola, são preparação para o futuro. Ninguém conhece nenhum futuro mas sabe-se que o tempo que há de vir deverá ser melhor do que o passado. Para projetar o “futuro” é necessário analisar as memórias e querer saber o que se quer. A escola pode ajudar a preparar melhor o futuro. Outra interpretação que se dá da escola é que é um meio para atingir um fim, isto é, um instrumento de instrução. Mas, se a escola são as pessoas relacionando-se de acordo com certas regras, não faz sentido ser considerada instrumento seja do que for. As relações humanas não são instrumentalizáveis, se o forem deixarão de ser relações humanas. Passarão a ser relações desumanas baseadas na instrumentalização, na coisificação do outro, na lógica do dominador/dominado, colonizador/colonizado. 
     A escola deve ser, como qualquer atividade humana, prioritariamente, um fim em si mesma, e não apenas um meio para atingir fins exteriores a si própria. O propósito da escola é também preparar para a vida, para o mercado de trabalho, para qualquer outra escola. A escola é vida. Toda a gente, por viver, já está preparada em maior ou menor grau para a vida ou para o mercado. A vida humana é feita de trocas químicas, biológicas, sociais, culturais e económicas. Por isso, a vida prepara a vida. 
     A escola só pode ser expressão de liberdade e por isso de responsabilidade, de cultura, de ciência e de criatividade, se não for assim não será escola, mas outra ordem/desordem qualquer. A Escola organizada, elegante e com harmonia é muitíssimo mais interessante e aparentemente mais difícil, tal como uma orquestra. Não tem que ser um paraíso ou uma utopia, estes conceitos dizem respeito apenas a realidades simbólicas que fazem com que se avance no sentido do horizonte. São uma espécie de motor que leva a que, positivamente, pensemos e andemos por uma inquietude de só nos sentirmos bem onde não estamos. Por isso professores e alunos viajam de muitas maneiras. O professor é um viajante que mostra aos alunos algumas das suas ideias sobre as suas viagens físicas e mentais. Exerce o seu ofício na escola e aí faz as suas declarações a todos quantos os necessários, não apenas aos alunos. Não é um colonizador dono de toda a sapiência a impor as suas verdades, também não é um colonizado, a sua função não é obedecer, mas ensinar. O professor procura, tanto na vida como na sua área específica, estar na crista da onda. Procurar vistas largas e a linha do horizonte, dirigir-se para lá, sem perder a paciência, com os alunos remando consigo, é o preceito fundamental do professor, assim consegue mostrar algumas novidades aos jovens acompanhantes da sua jornada. 
     Há quem encare a profissão de ensinar como uma missão, o que me faz lembrar o filme "Missão" de Roland Joffé de 1986. A ação decorre no século XVIII, na América do Sul, onde o padre jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) dirige uma missão na tentativa de converter os índios da região. Ora, o professor não é um missionário e não tem por função converter ninguém. Para isso teria de ser o contrário de um professor: um manipulador. Os alunos não são índios à espera de conversão, são pessoas à procura da sobrevivência com o menor esforço, o maior prazer e a menor dor, isso é natural. O exercício do professor é ser modelo ético na relação com os outros, nomeadamente com os alunos, e exercer a sua "profissão de fé", que de algum modo se baseia em crenças verdadeiras bem justificadas. Algumas são as seguintes: os alunos são seres vivos racionais e emocionais em crescimento, alguns dados da neurociência mostram que o seu cérebro só está “completo” por volta dos 27 anos de idade; os professores, tal como os alunos e toda a gente, estão em constante mudança, o que mostra que não há relações fáceis, aquele que era ontem um, hoje é já outro; a relação professor-aluno está sempre contaminada positiva ou negativamente por outros profissionais; muitas mudanças físicas e mentais são dolorosas, mesmo as desejáveis; a relação em que um dos polos (alunos ou professor) ou os dois, mostram inflexibilidade total, é violência física ou psicológica; numa relação ambas as partes devem ser flexíveis, porque assim são mais fortes e resilientes; numa relação o outro nunca deve ser instrumentalizado, as pessoas não são coisas; o próprio não se deve instrumentalizar a si, estaria a ser um exemplo antiético; a investigação permanente faz-nos sentir melhor e é imprescindível. 
     Muitas mais crenças verdadeiras com boas justificações poderiam ser apontadas, mas se pesquisarmos, encontramo-las em diferentes áreas científicas e filosóficas, nomeadamente psicologia, sociologia, ética, psicopedagogia, didática, biologia, etc.. 
     Em jeito de conclusão: o propósito da escola, como relação de referência, é o respeito absoluto entre todos os seus atores, a vida aí vale pena e deixa saudades, de tal modo que ninguém hesitaria em repetir as experiências que nela viveu. A escola assim é uma escola intemporal, a aula ou a atividade passou demasiado depressa e há vontade de repetir a experiência. É uma escola com imaginação porque tem razão e emoção. 

Pedro Reis 
de Abril de 2017 

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