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quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Elevador

Sonhei com o melhor 

elevador do mundo,

as escadas que levam 

do rés-do-chão ao sótão

tudo o que é importante levar,

detergentes para a roupa,

peças de vestuário, 

livros, quadros, malas;

funciona com pés e mãos,

cuidado e amor.

Veio-me à ideia, de seguida,

um elevador improvável,

o de Sísifo, que transportava, 

montanha acima, a enorme rocha 

que lhe cabia em castigo, 

poupando-o a trabalhos 

e dores (in)suportáveis.

Ato contínuo recordo 

outros elevadores,

do Bom Jesus, da Glória, 

de Santa Justa, da Bica, da Lavra.

Nisto oiço um comentador

a falar do elevador social, 

uma invenção moderna,

segundo alguns a solução 

para os males da sociedade.

Então diz-se à criança,

filho, queres ser alguém na vida?

Vais à esquina da rua da liberdade,

esforças-te ao máximo,

obedeces a todas as ordens,

cumpres todas as regras

sem pisar o risco, 

sem sair da linha,

direitinho que nem um fuso.

Assim serias alguém,

como se não  tivesses direitos

e deveres,  nem fosses

solidário, autónomo e belo

como é natural, 

mas um humano sem qualidades.






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