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segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Ano Novo

O Ano Novo há de ser
o que nós quisermos,
havendo juízo, querer é poder.
Que venha aí um ano novo de paz
cheio  de cores e alegria, 
sem crenças parvas como aquela
de que por decreto 
se pode mudar o mundo.
Prefiro acreditar, 
por risível que seja,
que dentro dos limites de cada um,
a partir de janeiro 
tudo se vai compor,
vai haver florestas encantadas,
perdurará o amor e a justiça;
a  fome, a pobreza, 
a miséria e a guerra 
serão erradicadas, 
pois há tanta força e tanta gente 
a sonhar e a lutar por isso.
Não vale a pena fazer 
uma lista de boas intenções 
para colocar na gaveta,
de nada serve fazer juras 
de que vamos todos ser bonzinhos 
e ajudar o próximo
brincando às caridadezinhas.
É preciso que cada um, 
em consciência, descubra
que merece mesmo um ano novo
mais perfeito do que o ano velho
que mais não será
do que uma pessoa nova,
o despertar do melhor dentro de si
até agora adormecido.







 

domingo, 27 de outubro de 2024

Luz e sombra

De luz e de sombra
também é feito o mundo,
nada floresce
na perpétua claridade
ou na contínua obscuridade.
Da semente imersa
na terra escura
emerge a força vital.
As flores desabrocham,
pois provêm de plantas
que suportam ciclos
de luminosidade e escuridão.
Do ocaso nasce a noite
que engendra a madrugada,
assim entra em nós
um novo dia
ao romper da alvorada.
©PR


A luz

A luz dos teus olhos,

a clara macieza da tua pele,

o cintilar que emprestas 

às  estrelas que resplandecem

num brilho vivo,

são jogos de amor

que mostram a tua alma.

talvez nua,

em todo o seu fulgor.

domingo, 20 de outubro de 2024

Manhã

Através da vidraça 

antevejo a luz do dia

que ainda agora é uma criança.

Escuto a voz de um melro 

circundando a vizinhança.

Anda na sua ronda matinal

seguro de que não há vento.

Por isso tem de voar, 

de dar conta, de ramo em ramo,

de que tudo está bem, 

levar as boas novas 

a outros lugares

certo está

que por ele ninguém o fará.

Toca nas plantas circundantes

com o seu assobio assertivo

e assim confirma o lugar natural

de cada uma e dos insetos 

seus vigilantes.

Encantados, outros pássaros 

regressam a este lugar 

de onde partiram

para voltarem a ser felizes 

nos cantos em que os ninhos

cresceram e ao mundo se lançaram.

Enquanto isto,

na quietude de outono

na terra lêveda,

germinam os pinheiros 

que às alturas se elevarão

para saciar a sede

de frescura do próximo verão.

sábado, 12 de outubro de 2024

Des/humanidade

Quando alguém trabalha

e produz cem ficando com vinte,

está claramente a ser roubado,

o seu trabalho foi alienado.

Quando alguém se apropria

do que não lhe pertence,

é autor de extorsão

sobre quem tudo dá

e quase nada recebe.

Quando alguém quer trabalhar

e desse direito é privado, 

está a ser violentado,  

desconsiderado e maltratado.

Quando alguém, por astúcia maldosa

e usurpação de poder, obriga o outro

a fazer o que não quer e o que não deve,

está simplesmente a colonizá-lo.

Quando alguém usa o insulto,

a mentira, a generalização abusiva 

e a manipulação, 

semeia sofrimento e violência,

leva o mundo à falência.

A ignorância efetiva 

assemelha-se nos efeitos à maldade

e ataca a igualdade.

Enquanto ignorantes  

do funcionamento do mundo

não sabemos o que é justo,

somos como insetos a espernear

de barriga para cima,

à mercê de todas as arbitrariedades.

A solidariedade não se encontra

dentro de uma caixinha de surpresas,

cultiva-se na vida, desde muito cedo, 

criando laços, 

promovendo beijos e abraços,

nasce na pátria da fraternidade

onde cada homem, cada mulher,

cada criança,

em qualquer idade,

respira o ar puro da confiança

e em liberdade, há-de ser o que quiser.

terça-feira, 1 de outubro de 2024

O rabo da lagartixa

A humanidade,
seja lá isso o que for,
durante muito tempo,
através dos seus doutos representantes,
convencida estava
de ter sido criada à imagem
e semelhança dos deuses.
Seria a espécie mais importante
de todas e, como se isso não bastasse,
habitaria no centro do universo
num planeta redondo
onde seria senhora de tudo,
como se tivesse a Razão na barriga.
Com a mudança dos tempos
foram-se descobrindo certas feridas.
Primeira ferida:
Copérnico, no século dezasseis
afirmou que a Terra e o Homem
não são o centro do Universo.
Segunda Ferida:
Darwin, no século dezanove, disse
que o ser humano é  uma espécie 
animal com história, 
órgãos e mortalidade
semelhante aos outros animais.
Terceira ferida:
Freud no século XX,
descobriu que o ser humano
não controla os seus afetos,
medos, impulsos e desejos,
porque afetado pelo inconsciente.
Conclusão:
Não sou mais importante
do que nada que exista ou possa existir,
não sou centro de coisa nenhuma,
não sou absolutamente racional,
não tenho nada de  imortal,
não me controlo inteiramente.
Então quem sou eu?
Sou afetos, desejos e emoções,
que vivem num corpo em mutação,
agitado por todos os ventos 
em todas as escalas.
Afetado por todas as marés,
por todos os efeitos de todas as borboletas,
pelas primaveras de Vivalvi e de Stravinski,
por todas as paisagens e nuvens
de óleos e aguarelas,
sou um corpo sob a influência 
dos impressionismos,
expressionismos, góticos, 
barrocos, românticos,
cubistas, surrealistas e minimalistas.
Afetado por tudo e por todos,
à procura do nada que é tudo,
em busca do tudo que é nada,
fugindo, como a lagartixa,
de quem lhe corta o rabo,
enfrentando os escolhos dos caminhos,
fruindo a vida que floresce mesmo
nos tempos e lugares mais improváveis,
tentando e errando como um astro perdido,
consciente ou não, da sua absoluta insignificância,
submetido voluntariamente 
à suposta ficção necessária 
da lei que descubro em mim.

quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Somos do mundo

A minha casa,

a minha rua, 

a minha escola,

a minha terra,

o meu país,

o meu mundo,

as minhas memórias.

Nada disto é verdadeiro.

A casa não é minha,

nem a rua, nem a terra, 

nem a escola, nem o país, 

nem o mundo, 

nem as memórias.

Quando muito sou da casa,

sou da rua, sou da terra, sou da escola, 

do país e das memórias.

Engana-se quem diz,

o mundo é nosso.

Engana-se ainda mais quem diz, 

o mundo é meu.

A verdade é que nós é que somos 

do mundo enquanto o mundo nos quiser.

Já é mau ouvir dizer, o mundo é nosso,

pior ainda é haver quem diga,

o mundo é meu.

Ponha-se termo, em nome da paz,

à falta de humildade,

e haverá humanidade.


segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Arte inacabada

Alguns dos que foram 

nossos amigos e conhecidos 

já não crescem, 

já não envelhecem,

simplesmente não estão cá. 

A morte negou-lhes 

todas as possibilidades.

Um ou outro talvez acreditasse

numa outra vida no além

ou num universo paralelo.

Essa fé não muda em nada

o facto de que já não existem,

são memórias que se podem 

desvanecer como traços de tinta 

em papel envelhecido.

Ninguém está fora 

da lei da morte,

nem mesmo o próprio universo.

Só nos resta o aqui e agora,

dia após dia

com a emoção 

que nos oferece

a energia vital,

o encantamento 

e a alegria 

para nos fazer sentir

que o dia que passou

é obra de arte inacabada.






sexta-feira, 30 de agosto de 2024

Morada

Em ti mora o luar 
e a voz da terra,
música do corpo que dança
e respira como as raízes 
das profundezas
no feliz deslumbramento 
de sonhar acordado.
Durmo na inconsciência do nada,
encontro as mãos, 
prolongamentos
do jogo da luz e das sombras
sempre incompletas, melodias
de abelhas melífluas e libélulas 
como valquírias em cavalgadas.


quinta-feira, 22 de agosto de 2024

Elevador

Sonhei com o melhor 

elevador do mundo,

as escadas que levam 

do rés-do-chão ao sótão

tudo o que é importante levar,

detergentes para a roupa,

peças de vestuário, 

livros, quadros, malas;

funciona com pés e mãos,

cuidado e amor.

Veio-me à ideia, de seguida,

um elevador improvável,

o de Sísifo, que transportava, 

montanha acima, a enorme rocha 

que lhe cabia em castigo, 

poupando-o a trabalhos 

e dores (in)suportáveis.

Ato contínuo recordo 

outros elevadores,

do Bom Jesus, da Glória, 

de Santa Justa, da Bica, da Lavra.

Nisto oiço um comentador

a falar do elevador social, 

uma invenção moderna,

segundo alguns a solução 

para os males da sociedade.

Então diz-se à criança,

filho, queres ser alguém na vida?

Vais à esquina da rua da liberdade,

esforças-te ao máximo,

obedeces a todas as ordens,

cumpres todas as regras

sem pisar o risco, 

sem sair da linha,

direitinho que nem um fuso.

Assim serias alguém,

como se não  tivesses direitos

e deveres,  nem fosses

solidário, autónomo e belo

como é natural, 

mas um humano sem qualidades.






quarta-feira, 21 de agosto de 2024

Poema Sujo

Numa aula de moral e religião,

há muitos anos,

um amigo meu, de doze anos,

respondeu ao padre, 

depois de este ter dito 

que a confissão nos deixa

a alma mais limpa:

pudera, é como o OMO, 

lava tudo mais branco.

O presbítero chamou-o, 

deu-lhe duas fortes bofetadas

à frente da turma 

e mandou-o para a rua

de castigo, em penitência.

Estranhei muito o sucedido

e não me resignei, fiquei

revoltado com a situação

do meu amigo.

Esta memória ocorreu-me

a propósito de sentir

que vivemos num mundo

onde há muita sujidade

e um evidente, constante 

e excessivo apelo à higiene.

Há quem derrube árvores

porque acha que sujam muito 

as ruas e os quintais,

quem espalhe cartazes 

com cruzes sobre o retrato

de quem é para eliminar

dizendo que é preciso

fazer uma limpeza.

Há também quem decida 

e pratique o genocídio 

como se fosseu um ato de higienização 

do mundo.

A comunicação social dominada

é também expressão deste estado 

de coisas, trata uns como pessoas

muito importantes e outros

como se fossem insetos 

incómodos e insignificantes,

numa lógica de lavagem ao cérebro

para gáudio de uns quantos

gananciosos que se autointitulam

com o direito divino 

de serem os donos do mundo. 

Há sem dúvida 

higiene e limpeza a mais.

Por isso aqui fica 

um apelo à compreensão da sujidade

e ao lançamento de uma campanha

mundial para erguer uma estátua

de homenagem ao poema sujo.



Foto: desenho de Emília Nadal, 1976, exposto no Museu Soares dos Reis, Porto, 28 de julho de 2024








quarta-feira, 14 de agosto de 2024

O vento

Aprendi no oitavo ano 

de escolaridade, em geografia,

que o vento 

é o movimento do ar

das altas para as baixas pressões.

O tempo passou

e décadas depois

aquela definição continua verdadeira,

mas o vento que oiço, que sinto 

e que não vejo, mostra-se

nos seus uivos de outra maneira,

há outra verdade no sentimento

do vento.

Pergunto-lhe se há esperança 

para o mundo ser mais verde

e ele nada me diz sobre a mudança.

Por isso vou andar por aí

à procura de outros ventos

que nos tragam outros tempos

que nos livrem das mordaças

e nos libertem das desgraças.


quarta-feira, 24 de julho de 2024

O tempo

Diz-se que o tempo

nos devora como Cronos

devorava os filhos.

Mesmo assim

somos mais fortes do que ele:

muitos dias já se foram

e nós cá continuamos.

Não devoramos os filhos, 

não somos canibais.

Eles é que parecem, 

por vezes, querer-nos devorar

como bebés sôfregos

 a beber o leite dos seios das mães.

Não os levamos a mal por isso,

são o futuro, 

vida para além do agora. 

O presente, maior do que tudo 

o que se pode imaginar,

é sentir a vida como quando

se lê o poema pela primeira vez,

como a força do choro

do recém-nascido

que ecoa nos vórtices da vida.

O presente é cumprir,

como Aristóteles dizia, 

a causa final da humanidade,

tão só a felicidade.





terça-feira, 16 de julho de 2024

Presidente

O presidente diz,

"Vejo com bons olhos a abertura

dos partidos ao diálogo com tempo."

O presidente egocêntrico, fala de si

próprio e diz que tem bons olhos.

Considera-se visionário, 

vê a abertura dos partidos,

que eventualmente, 

mais ninguém vê.

O diálogo vem lá e entra nos partidos

através de uma brecha.

O presidente diz 

que o diálogo tem tempo,

como se pudesse haver 

diálogo sem tempo.

Diz que o orçamento

deve trazer estabilidade ao país.

Um orçamento com dois pratos 

e um ponteiro a  servir de fiel, 

para dar equilíbrio ao país,

firme e hirto como uma barra de ferro.

Temos um presidente 

tão arguto, tão bom, 

tão inteligentesinho.




segunda-feira, 15 de julho de 2024

Passado

Tudo está em tudo

como dizia o velho Anaxágoras

de Clazómenas.

Foi dos primeiros a duvidar

de que o Sol era um deus

e  de que a Lua era uma deusa.

O Sol seria mais como uma pedra quente

e a Lua como uma terra 

que avistamos ao longe.

Por isso foi preso e castigado.

Ontem, ao passear em boa companhia

nas ruínas de Ammaia,

senti o calor da pedra vermelha

de Anaxágoras enquanto

viajava ao passado 

de há dois mil anos.

À noite avistei a Lua, 

a partir do quintal

da casa onde moro

e vi nela uma terra distante.

Viajei ainda mais 

quinhentos anos para trás.

Foi um dia maravilhoso,

descobri, tal como Anaxágoras,

que podemos estar a ver e a sentir

tudo em todo o lado.



domingo, 23 de junho de 2024

Sorte



Os trevos de quatro folhas

dão sorte.

Há quem acredite nisso

e não tem mal nenhum.

Os trevos de quatro folhas 

do quintal da casa onde moro

cativam-me de tal modo

que estou seguro de que lhes pertenço.

São verdes e mostram flores

de cinco pétalas cor de rosa

com estiletes amarelos.

Não creio, por maioria de razão,

que dão mesmo sorte.

Tenho-os na vista

quando estou ao pé deles,

e no pensamento 

quando vou para o trabalho.

Faço de conta que acredito 

(que dão sorte) 

para corresponder ao seu apelo

e justificar a nossa relação.

Sinto a estranheza 

de que vivo como se acreditasse

(que dão mesmo sorte)

e isto faz-me bem ao coração.

Tenho mesmo sorte.

Tenho muita sorte.



 




terça-feira, 18 de junho de 2024

No fim do dia


Num sonho maduro,

em que há uma luz bruxuleante

a iluminar a alma e a dar

alegria ao coração,

irrompem as tuas mãos

na madrugada sem fronteiras,

desgranando romãs vivas

na mesa onde nos sentamos

para partilhar os despojos do dia. 

O tempo bravio não dá tréguas,

o vento suão desafia a resistência, 

e esta nossa força, 

mesmo cansada,

vence a secura agreste

que nos quis tisnar a pele.

Continuamos a regar as plantas,

a olhar para elas,

a vê-las a crescer e a sorrir 

assertivamente, na sua luta

que é também a nossa.

Por isso elas cuidam de nós 

e nós delas, sempre e sempre,

como é natural, até ao merecido

momento em que as mãos se dão.



terça-feira, 11 de junho de 2024

Três tempos

Primeiro tempo,
o passado, memória 
e pensamento 
dos sonhos e dos sonos, 
leves como plumas, 
profundos como a Fossa 
das Marianas 
no Oceano Pacífico.

Segundo tempo,
o presente, é o que sinto,
tão ténue, tão fino e fugidio,
talvez por isso 
me comporte como se fosse eterno
(não eu, mas o tempo a que pertenço).
É a inconsciência do nada,
a felicidade inteira como um fruto
fresco, maduro e doce nas tuas mãos,
nas minhas mãos, na tua boca,
nos lábios, na hora dos beijos.

Terceiro tempo,
o futuro, não existe
porque ainda não aconteceu,
é como uma ética, uma
intenção, um projeto, uma semente
a querer desabrochar,
é uma promessa que se há-de cumprir,
um lucro emocional que se desenrolará 
ao ritmo dos corações em sincronia.




domingo, 2 de junho de 2024

Amor, pão, água e abrigo

Olho em volta e vejo tantos objetos.

Que não uso, pouco usei, não usarei.

Tanto CD, tanto DVD, tanta cassete.

Tanta camisola, tanta meia, tanto casaco.

Tanto brinquedo, tanto plástico.

Tudo isto veio de algum lado. 

Tudo isto foi fabricado. 

Quem sabe com sangue, suor e lágrimas.

De certeza, com lucro fácil e abundante para alguns.

Com materiais arrancados às entranhas das montanhas, 

dos vales, das planícies, dos rios e dos mares,

delapidando a saúde da Terra Mãe.

Para quê tanta tralha?

Afinal só preciso de amor, pão, água e abrigo.

Tudo o mais é supérfluo.

segunda-feira, 1 de abril de 2024

DESEJOS

À saída do supermercado fui inquirido sobre três desejos.
Deseja um saco?
Deseja fatura?
Deseja pagar com a nossa aplicação?
Apeteceu-me dizer, mas não disse, digo agora.
Desejo paz e amor, desejo que todas as guerras acabem já.
Desejo que a mentira, a hipocrisia, o cinismo, o roubo e a exploração terminem neste momento para nunca mais se repetirem.
Desejo que consigamos partilhar ideias, modos de produção, riqueza, cultura, educação.
Desejo saúde para todos, respeito, igualdade máxima, liberdade máxima, para todos, sem exceção.
Desejo que acabe já o racismo, o machismo, a xenofobia, o discurso de ódio e a caça às bruxas.
Desejo, do fundo do coração, que toda a gente sinta e deseje do fundo de todos os corações, que sejamos efetivamente todos iguais e todos diferentes.
Desejo que ninguém ache nem sinta que a pessoa humana é egoísta, egocêntrica, gananciosa, mesquinha, pérfida, manhosa.
Desejo tantas coisas, uma Natureza cuidada, acarinhada e respeitada.
Desejo ar puro para respirar, água boa para beber e para nadar, paisagens sublimes que perdurem e nos encantem durante muitos e muitos anos.
Creio que quase toda a gente comum deseja coisas, assim simples, como um beijo, um abraço, uma declaração de amor, uma chispazinha de um olhar amigo.
E os desejos que nos sugerem explicitamente são sacos de plástico, faturas eletrónicas com número de contribuinte, modos de pagamento e pseudo-felicidade empacotada.
Este é o mundo dos desejos com preço, evidentemente manipulado, como se a felicidade se pudesse comprar, faturar e pagar com uma aplicação eletrónica ou com a adesão a não sei quanto por cento de desconto em cartão.
Os valores principais, éticos e morais, por serem bons, não têm preço, por isso quem os tem não os vende, por conseguinte, quem nos quer vender tudo e mais um par de botas, não nos pergunta os verdadeiros e éticos desejos, é que não dão lucro fácil e imediato.
©PR
__________________________

Nota: Os trabalhadores merecem sempre todo o respeito, esta crítica não é para eles, mas para quem tem poder para os “obrigar” a repetir a mesma frase, centenas ou milhares de vezes por dia: “Deseja um saco? Deseja fatura?” Deseja... ?

quinta-feira, 28 de março de 2024

Papoilas

O que se vê não é o vento
o que se ouve não são as papoilas.
Nós também somos assim, como elas.
Agitadas, aturdidas, conforme
as invisíveis partículas que nos rodeiam.
O que nos vem à consciência 
não é absolutamente decidido por nós,
tal como as papoilas não deliberam
a agitação protagonizada por forças invisíveis,
também nós, muitas vezes, nos movimentamos
sem saber bem porquê, apesar desse fluxo
interno a que chamamos consciência


sexta-feira, 22 de março de 2024

PRIMAVERA

A primavera merece
a sagração incondicional,
justifica-se porque é tão bela
como o brilho dos olhos
espantados pelo azul
do mar, do céu, das estrelas
e dos amores perfeitos,
aturdidos pelas infinitas cores
de outras inefáveis flores.

POESIA

A poesia pode ajudar
toda a gente,
oprimidos e angustiados,
alegres e redimidos,
resignados e insubmissos,
malvados e explorados,
ingénuos e astutos,
pessimistas e esperançados.
A poesia é o início e a continuação
da pura revolução,
liberdade em movimento,
é democracia
em estado original.
É árvore, aroma e bruma,
chuva, luz, estrela, lua,
flor, criança a brincar na rua.
©PR

quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024

A visão clara da BD





Uma parte da  campanha eleitoral que  aí está.






Fonte: https://conversavinagrada.blogspot.com/2024/02
 

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

O riso (dia internacional)

Pelo riso afirmamo-nos
livres e ultrapassamos
a barreira do medo,
reabilitamos a memória,
avivamos a batalha
contra o esquecimento
e a luta dos oprimidos
contra o poder.
A relação entre os humanos
será absolutamente livre
se o riso espontâneo e saudável
tiver lugar em qualquer lado.
O riso autêntico é a liberdade sem medo.
©PR