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sexta-feira, 18 de março de 2022

DIA DO PAI - 19 de março

Quantas vezes percorres 

os caminhos do meu pensamento?

Nem sei, já lhes perdi o conto,  pai.

Passeias comigo tantas horas, 

tantos dias, nas mais vívidas memórias.

Tens sido a minha âncora em muitos momentos, 

principalmente nos mais espinhosos,

naqueles dias penosos em  que o sol não nasce,

naquelas noites em que a lua chora de saudade 

por já teres partido, 

aqueles das angústias existenciais: 

sou ou não sou, faço ou não faço, 

quero ou não quero?

Naqueles dias de tempestade 

à procura do porto de abrigo,  

estás sempre comigo.

Como é simples, na tua companhia, 

resolver as dores da alma

quando, na maior das agruras, 

perdido no oceano das dúvidas,

pergunto: o que farias,  pai,

se estivesses aqui e agora no meu lugar? 

Conhecias-me  a mim e aos manos,

mais do que ninguém,

assim como o grande amor da tua vida, 

a minha mãe.

Tentei, enquanto jovem, 

compreender os teus preceitos,

as tuas forças, a razão do teu viver, 

a intenção dos teus projetos.

Deixaste-nos demasiado cedo,

tinha ainda tantas perguntas para te fazer,

contudo não te foste embora,

vives comigo a toda a hora,

afinal sou uma bocadinho do teu futuro,

um reflexo da tua estrela,

procuro transportar no meu corpo 

a ternura dos teus gestos

e respeitar o teu lugar à nossa mesa.

Descobri contigo, na tua célere passagem,

o valor dos mistérios insondáveis da vida,

a veemência no cuidar de quem precisa,

o respeito pela natureza,

o sentido de estarmos aqui, uns com os outros,

aprendendo a viver juntos,

combatendo a melancolia, construindo alegria.

Ensinaste-me o maior preceito 

que alguém pode desejar aprender:

não desistir de nada do que é essencial e verdadeiro,

fruir a vida com o propósito de contribuir 

para a maior riqueza e felicidade do mundo.

Muitas sementes lançaste à terra, 

imensas árvores plantaste,

com carinho, dos animais cuidaste.

Calcorreaste os campos, lavraste muita terra,

regaste muitas plantas, colheste tantos  frutos.

Respeitaste  os amigos, a família e  os demais, 

com uma verdade tão simples

como a das nuvens ao serem apenas as nuvens do céu.

O Deus em que acreditavas,

sumamente bom, compreensivo,

misericordioso, motor de toda a justiça,

fundamento de toda a existência

e de toda sabedoria, dava-te a força

e o norte para segurares o leme da vida

no sossego da alma 

que te permitia sonhar e cantar.

Como ecoa ainda a tua voz  de barítono

no canto espontâneo de esperança 

na capela da aldeia onde cresci 

e onde iniciei os meus sonhos:

"eu sonho que a minha gente 

será semente da eterna paz".

Procurarei, como me diz o sentido, 

e na senda do teu querer,

sempre e em toda a parte, 

meu querido Pai, continuar-te.









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