1 A filosofia como atração irresistível pela
sabedoria, como tentativa sempre inacabada de perceber o porquê da “impotência
e do desconcerto, da surpresa e do espanto”, leva-nos a uma experiência
inolvidável em que constatamos que “o âmbito do possível é mais vasto do que o
da necessidade”. Cada um de nós tem sempre pela frente, a cada momento, um
abismo, a hipótese de um salto para o desconhecido e, por isso, tem que decidir sempre. A
necessidade mostra-nos o que é imperioso que seja, é a diretora da nossa
existência e encontra-se imersa na imensa rede da possibilidade. Pela filosofia
apercebemo-nos que o nosso horizonte de possibilidades, o domínio do possível,
é infinitamente maior do que o domínio da necessidade. De facto, à volta de
cada escolha nossa, há um conjunto ilimitado de outras escolhas possíveis que não realizamos. Contudo, optamos
apenas pelo necessário, por aquilo que nos define essencialmente como seres
humanos e, na verdade, é isso que fazemos, a nossa existência não é mais do que
a realização de escolhas necessárias à nossa singularidade, ao nosso “eu”. Tal
só é possível porque de quando em quando somos interpelados pela consciência da
nossa incapacidade em resolver ou compreender certos problemas, pela surpresa
que sentimos ao percecionar o mundo de forma diferente da habitual e pelo
espanto que nos mostra o mundo na sua estranheza e no seu mistério.
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