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domingo, 2 de novembro de 2025

Palavras

As palavras andam por aí,

às vezes caçamos algumas

mas não são propriedade nossa.

Quem as inventou permitiu-nos 

que as pedíssemos emprestadas

sem pagar juros, com a condição

de as partilharmos, ouvindo, falando,

lendo, escrevendo, publicando. 

Mas, tal como na natureza, 

nas palavras não há maldade 

nem bondade, nem beleza nem fealdade.

Se parecem belas é porque nos aprazem,

se denotam crueldade é porque nos fazem sofrer.

As palavras dialogadas 

são talvez as mais sublimes,

com elas se reconhece a igualdade, 

a liberdade e a fraternidade.

Com elas se fabricam as perguntas

da constante mudança investigativa:

desentendimentos, concordâncias,

espinhos, flores, cores e amores.

Fossem as guerras

só polémicas e jogos de palavras,

teríamos um mundo a sério,

com mais bem, menos mal, 

sem imperadores, dinâmico, 

infinito, inacabado, maduro,

um mundo com futuro.




 

domingo, 31 de agosto de 2025

Casa

Sabemos que habitamos
a nossa única casa,
nela estamos presos à vida
cativos uns dos outros.
Não nos afastemos,
vamos de mãos dadas,
sempre unidos.
A realidade está connosco,
nela alcançaremos
horizontes de futuro.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

DIFERENÇA

Cada um é, de certo modo,
toda a gente, e toda a gente é,
de alguma maneira, cada um.
Afinal somos humanos
porque vivemos
com outros humanos.
Mas também há algo
absolutamente singular em cada "eu",
uma marca de diferença individual.
Onde a podemos encontrar?
Talvez nos limites do corpo,
na aura individual, na emanação
singular fluídica da vida
ou na sensação única de um gesto.

terça-feira, 29 de julho de 2025

A Árvore do Paraíso

A árvore do paraíso é tão verde,
mais bela do que a Gioconda.
A flor da árvore do paraíso
é alva como a neve mais branca.
A árvore do paraíso é completa,
basta-se a si própria como o universo,
é bailarina como a invisível aragem
que acaricia as suas pétalas.
A árvore do paraíso é como o amor,
por isso a rego, protejo, cheiro,
afago, olho, cuido e alimento.
É um pedacinho de mundo
onde olhamos um para o outro
e voamos com as asas da liberdade.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

VERDADE

Pode procurar-se a verdade
para  se saber onde começa e acaba 
o eu e o outro, e assim, determinar,
com a precisão de um nanomundo,
os limites do livre-arbítrio,
fundamento da liberdade.
A verdade pode surgir como
pedra filosofal, altar dos deuses, 
oráculo, clareira da floresta,
conversa de amigo
ou cantiga de amor.
Ou até, como no dia de hoje,
numa epifania inusitada,
em que é dado a quem quiser e puder,
o verde de árvores 
que dão pássaros que fruem
as sombras e a vida 
que nelas se oculta.
Assim, cativos da natureza, 
obrigados a sentir os pés 
num chão que  transmite 
a manhã fresca da orvalhada,
ligamo-nos à terra
e a verdade vai-se revelando
passo a passo, 
num caminho incessante.
Por isso conseguimos 
alimentar as bússolas,
as próprias e as de quem passeia 
connosco no nosso coração 
e no nosso espírito, 
a toda a hora do dia.

domingo, 4 de maio de 2025

Dia da Mãe


"Deus não pode estar em todo o lado e por isso criou as mães".
- Ditado judaico


Hoje é o dia da mãe mas também o dia das mães. Ninguém conhece todas as mães do mundo, apenas algumas. Há quem não conheceu a sua, há quem a tenha conhecido e  já a não tem, e há quem a tem e não seja reconhecido por ela por motivo de doença grave e há quem tem a felicidade de a ter com saúde. Mas seja mãe viva ou mãe apenas na memória, mãe há só uma, parece consensual, no entanto  há quem tenha de facto mais do que uma mãe. Há tias e amigas que são autênticas mães de filhos que não geraram. Mãe é quem gerou o/a filho/a no ventre, mas não apenas, é também quem ama incondicionalmente, quem cuida e educa, quem não dorme quando o/a filho/a está aflito/a, quem visita o/a filho/a na prisão se ele/a for preso/a,  independentemente da acusação,  é quem move montanhas para lhe salvar a vida, quem arrisca tudo. A Mãe dá a vida pelos filhos e sente as dores que lhes vão no corpo e na alma. Mãe a quem morreu um filho/a não tem nome, ou se tem, é mãe das dores, das dores excruciantes que mais ninguém sente, apenas ela e mais ninguém. As mães são a causa das nossas vidas, a razão do presente e a melhor expetativa do nosso caminho neste mundo. São a causa material, formal, eficiente e final da existência da humanidade, são a potência  do futuro, são, também por isso, merecedoras de todo o carinho, de toda a alegria e de toda a felicidade possível.

Viva o dia da mãe, vivam as mães!
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Foto: escultura no átrio do Hospital de Santa Luzia






quarta-feira, 5 de março de 2025

País de Abril

O país de Abril

é a afirmação da vida

onde toda a gente luta

por bom tempo e melhores auspícios.

Este país encerra a memória

de mulheres e homens 

outrora exauridos

pela incomensurável reivindicação,

infinitos instantes de liberdade.

Este país treme de ternura 

como poetas a aprender

no mar imenso, 

nas longas praias,

nos cálidos campos,

nas desafiantes montanhas,

nas florestas de verde vivo.

Este país cresce 

como as crianças,

quais rios livres

que correm pacíficos

sem se deixar oprimir.

O País de Abril 

é a pátria de manhãs 

serenas e límpidas,

de tardes frescas,

de noites escaldantes 

de mãos encontradas,

de flores partilhadas,

de trabalho alegre, de lutas mil,

um país belo e inteiro

como no Sonho de Abril.

©PR