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terça-feira, 16 de dezembro de 2025

LIBERDADE II

A liberdade é o bom uso do livre-arbítrio,
por isso é a prática intencional do bem.
O livre-arbítrio é a possibilidade de escolher,
é um fundamento da liberdade,
tem origem no significado das coisas
e pode ser expressão da boa vontade.
A liberdade é a razão prática em ação,
o respeito absoluto pelo outro.
O livre-arbítrio nem sempre é de todos,
há quem não possa escolher,
devido a limitações involuntárias.
Todos podem ter tendência para a liberdade,
mas nem todos são livres porque alguns
têm da liberdade apenas uma ilusão.
Há quem acredite na mentira que diz:
"a minha liberdade acaba onde começa a tua".
A verdade é o contrário disso:
quanto mais liberdade eu tenho
mais liberdade tens tu também.
A minha liberdade acaba quando
acaba a tua liberdade e a tua termina
quando a minha se acaba.
Só há liberdade a sério quando todos
formos efetivamente livres,
quando todos nos respeitarmos
absolutamente uns aos outros,
a possibilidade disso depende de nós.
Mas para além de outras razões
a liberdade é como o amor,
cresce à medida que se reparte.
©PR
 


sábado, 6 de dezembro de 2025

Quando o mundo está cheio de ruído


Visitei a exposição no espaço.arte de Campo Maior, "When the world is full of noise, traduzindo, "Quando o mundo está cheio de ruído", com curadoria de Orlando Franco. Esta exposição é um convite ao pensamento sobre o tema - o ruído.
Há no mundo demasiado ruído, aliás, uma grave carência do século XXI é a dificuldade de tempo e de espaço para o exercício calmo e sereno do pensamento, para a fruição da arte, para o silêncio criador.
No silêncio, por oposição ao ruído, podemos obter o que necessitamos para encontrar o sentido de tudo, de nós e dos nossos semelhantes, do princípio e do fim do universo.
A melhor alternativa ao ruído em excesso e à saturação é a fruição da arte, neste caso a arte do desenho, da pintura e da escultura, que ocorre no silêncio, faz emergir a nossa energia vital e pode conduzir-nos à poesia e à música, combinações de sons e de silêncios numa sequência organizada no horizonte temporal. 

domingo, 2 de novembro de 2025

Palavras

As palavras andam por aí,
às vezes caçamos algumas
mas nem por isso são nossa propriedade.
Quem as inventou permitiu-nos
que as pedíssemos emprestadas
sem pagar juros, com a condição
de as partilharmos, ouvindo, falando,
lendo, escrevendo, publicando.
Mas, tal como na natureza,
nas palavras não há maldade
nem bondade, nem beleza nem fealdade.
Se parecem belas é porque nos aprazem,
se denotam crueldade é porque nos fazem sofrer.
As palavras dialogadas
são talvez as mais sublimes,
com elas se reconhece a igualdade,
a liberdade e a fraternidade.
Com elas se fabricam as perguntas
da constante mudança investigativa:
desentendimentos, concordâncias,
espinhos, flores, cores e amores.
Fossem as guerras
só polémicas e jogos de palavras,
teríamos um mundo mais a sério,
com muito bem e pouco mal,
sem imperadores, dinâmico,
infinito, inacabado, maduro,
partilhado, um mundo com futuro.




 

domingo, 31 de agosto de 2025

Casa

Sabemos que habitamos
a nossa única casa,
nela estamos presos à vida
cativos uns dos outros.
Não nos afastemos,
vamos de mãos dadas,
sempre unidos.
A realidade está connosco,
nela alcançaremos
horizontes de futuro.

quinta-feira, 28 de agosto de 2025

DIFERENÇA

Cada um é, de certo modo,
toda a gente, e toda a gente é,
de alguma maneira, cada um.
Afinal somos humanos
porque vivemos
com outros humanos.
Mas também há algo
absolutamente singular em cada "eu",
uma marca de diferença individual.
Onde a podemos encontrar?
Talvez nos limites do corpo,
na aura individual, na emanação
singular fluídica da vida
ou na sensação única de um gesto.

terça-feira, 29 de julho de 2025

A Árvore do Paraíso

A árvore do paraíso é tão verde,
mais bela do que a Gioconda.
A flor da árvore do paraíso
é alva como a neve mais branca.
A árvore do paraíso é completa,
basta-se a si própria como o universo,
é bailarina como a invisível aragem
que acaricia as suas pétalas.
A árvore do paraíso é como o amor,
por isso a rego, protejo, cheiro,
afago, olho, cuido e alimento.
É um pedacinho de mundo
onde olhamos um para o outro
e voamos com as asas da liberdade.

segunda-feira, 14 de julho de 2025

VERDADE

Pode procurar-se a verdade
para  se saber onde começa e acaba 
o eu e o outro, e assim, determinar,
com a precisão de um nanomundo,
os limites do livre-arbítrio,
fundamento da liberdade.
A verdade pode surgir como
pedra filosofal, altar dos deuses, 
oráculo, clareira da floresta,
conversa de amigo
ou cantiga de amor.
Ou até, como no dia de hoje,
numa epifania inusitada,
em que é dado a quem quiser e puder,
o verde de árvores 
que dão pássaros que fruem
as sombras e a vida 
que nelas se oculta.
Assim, cativos da natureza, 
obrigados a sentir os pés 
num chão que  transmite 
a manhã fresca da orvalhada,
ligamo-nos à terra
e a verdade vai-se revelando
passo a passo, 
num caminho incessante.
Por isso conseguimos 
alimentar as bússolas,
as próprias e as de quem passeia 
connosco no nosso coração 
e no nosso espírito, 
a toda a hora do dia.