As palavras andam por aí,
às vezes caçamos algumas
mas não são propriedade nossa.
Quem as inventou permitiu-nos
que as pedíssemos emprestadas
sem pagar juros, com a condição
de as partilharmos, ouvindo, falando,
lendo, escrevendo, publicando.
Mas, tal como na natureza,
nas palavras não há maldade
nem bondade, nem beleza nem fealdade.
Se parecem belas é porque nos aprazem,
se denotam crueldade é porque nos fazem sofrer.
As palavras dialogadas
são talvez as mais sublimes,
com elas se reconhece a igualdade,
a liberdade e a fraternidade.
Com elas se fabricam as perguntas
da constante mudança investigativa:
desentendimentos, concordâncias,
espinhos, flores, cores e amores.
Fossem as guerras
só polémicas e jogos de palavras,
teríamos um mundo a sério,
com mais bem, menos mal,
sem imperadores, dinâmico,
infinito, inacabado, maduro,
um mundo com futuro.