Diz-se que o tempo
nos devora como Cronos
devorava os filhos.
Mesmo assim
somos mais fortes do que ele:
muitos dias já se foram
e nós cá continuamos.
Não devoramos os filhos,
não somos canibais.
Eles é que parecem,
por vezes, querer-nos devorar
como bebés sôfregos
a beber o leite dos seios das mães.
Não os levamos a mal por isso,
são o futuro,
vida para além do agora.
O presente, maior do que tudo
o que se pode imaginar,
é sentir a vida como quando
se lê o poema pela primeira vez,
como a força do choro
do recém-nascido
que ecoa nos vórtices da vida.
O presente é cumprir,
como Aristóteles dizia,
a causa final da humanidade,
tão só a felicidade.