As palavras nascem das cordas vocais,
da cavidade bocal, aos bocados.
As palavras vão-se seguindo umas às outras,
dão as mãos, enleiam-se como as caudas dos gatos.
A palavra palavra e todas as outras nasceram
e, mesmo ontem, se eclodiram de manhã, umas
ao raiar do sol, outras já eram ao crepúsculo.
Avós, mães, filhas e netas de si próprias,
vão-se descobrindo ao mesmo tempo
que se vão encobrindo para não definharem.
As palavras são felizes quando se realizam.
Azedas, zangam-se e apartam-se até ao próximo encontro.
Avizinham-se para sobreviverem e pelejam ideias
muito difíceis de entender.
Entranham-se na estranheza de se próprias.
Projetam fachos numinosos, esclarecem-se
umas às outras, como a língua do gato sobre o pelo macio
do gato mais próximo.
Sem proibições dizem coisas
espantosas como, é proibido proibir,
interditam-se porque se entredizem, espalham-se
como cristais sob a ténue luz do cair da noite.
Caem sem estrondo na terra quente e húmida,
aconchegam-se no longo inverno frio e cavernoso.
Abrigam-se do sol que queima e mostram as flores
e os frutos da primavera de maio.
Inusitadamente ressuscitam, criam hordas,
radicam-se, edificam casas onde vão morar,
de onde sairão quando um pastor as cativar.
Deambulam nos verdes campos
onde escutam a música da flauta mágica.
Posto isto convertem-se em poesia,
onde escutam a música da flauta mágica.
Posto isto convertem-se em poesia,
mostram-nos as profundezas e as altas montanhas,
entregam alegria aos corações
cujas mãos desenharão crianças,
rubras papoilas, mar salgado, infinito amor.
entregam alegria aos corações
cujas mãos desenharão crianças,
rubras papoilas, mar salgado, infinito amor.
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