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quinta-feira, 13 de agosto de 2015

A lei da vida

     O presente é a prenda que o mundo nos deu, é o melhor e o pior, é tudo. Aqui e agora está e é o que podia, pode ou poderá ser. Qualquer época da nossa vida é a melhor possível. Não dominamos parte de nós, muito do que somos é inconsciente, isso manifesta-se, por exemplo, na arte. A arte vai muito para além do artista, este, por vezes espanta-se com as suas próprias produções. Há, com certeza, racionalidade. É a razão que nos permite a mudança para melhor através do trabalho, da meditação, da reflexão sobre o que vem à consciência e que parte, eventualmente, do inconsciente, passando pelo subconsciente. Os medos, as angústias e os preconceitos estão enraizados em todos de diferentes formas, consoante a constelação cultural em que vivem. Podem ser descobertos e racionalizados pela literatura, a forma de arte que mais apela à reflexão enquanto se frui. O mundo pode melhorar a partir do momento em que cada um se aperfeiçoa. O caminho para a perfeição não é impossível, concretiza-se pela leitura, pela reflexão, pelo pensamento sobre a vida e pelo desenvolvimento da capacidade de viver, olhar, escutar, sentir. Somos inteiramente livres se dispusermos de tempo e de espaço para fazer arte e para refletir sobre ela enquanto a contemplamos. Somos animais estéticos, a estética é individual e comunitária, logo política. Fabricar arte e "consumir" arte é um ato político e é ao mesmo tempo o que nos torna humanos, embora tenhamos muito, talvez mais do que o que o cristianismo nos legou, em comum com os animais a que chamamos irracionais. 
     Não me parece que haja progresso humano com a evolução histórica. A própria história nos dá essa informação. O holocausto é disso um exemplo. Há inovação tecnológica que traz sempre consigo esperanças e angústias. A velocidade do comboio no século XIX trouxe consigo tantos medos e temores como a internet nos nossos dias. Nós é que não chegámos a senti-los. Não me parece que as conquistas tecnológicas sejam a proximidade do apocalipse. O mundo já esteve para acabar várias vezes, segundo relata a história das crenças metafísicas e religiosas. Apesar de tudo, nós cá continuamos e os nossos descendentes farão o possível para sobreviver com a menor dor possível, essa é, parece-me, a lei fundamental da vida.

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