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quarta-feira, 11 de setembro de 2024

Somos do mundo

A minha casa,

a minha rua, 

a minha escola,

a minha terra,

o meu país,

o meu mundo,

as minhas memórias.

Nada disto é verdadeiro.

A casa não é minha,

nem a rua, nem a terra, 

nem a escola, nem o país, 

nem o mundo, 

nem as memórias.

Quando muito sou da casa,

sou da rua, sou da terra, sou da escola, 

do país e das memórias.

Engana-se quem diz,

o mundo é nosso.

Engana-se ainda mais quem diz, 

o mundo é meu.

A verdade é que nós é que somos 

do mundo enquanto o mundo nos quiser.

Já é mau ouvir dizer, o mundo é nosso,

pior ainda é haver quem diga,

o mundo é meu.

Ponha-se termo, em nome da paz,

à falta de humildade,

e haverá humanidade.


segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Arte inacabada

Alguns dos que foram 

nossos amigos e conhecidos 

já não crescem, 

já não envelhecem,

simplesmente não estão cá. 

A morte negou-lhes 

todas as possibilidades.

Um ou outro talvez acreditasse

numa outra vida no além

ou num universo paralelo.

Essa fé não muda em nada

o facto de que já não existem,

são memórias que se podem 

desvanecer como traços de tinta 

em papel envelhecido.

Ninguém está fora 

da lei da morte,

nem mesmo o próprio universo.

Só nos resta o aqui e agora,

dia após dia

com a emoção 

que nos oferece

a energia vital,

o encantamento 

e a alegria 

para nos fazer sentir

que o dia que passou

é obra de arte inacabada.